sábado, 29 de agosto de 2009

O que não se sabe


Há sempre algo que não se sabe.
E há o medo do que não se deve saber.
Junto com a curiosidade.
E por mais que se queira
e por mais que se tente
e por mais que se imagine
e por mais que se fuja,
o que não se sabe é sempre maior.
Não se alcança.
Não se deixa ver.
Pode ser um pouco de tudo
ou muito de pouco,
é sempre mistério.
Segredo que não se conta.
Segrega.
Não se explica,
não se expõe,
não se compromete.
Não promete.
Apenas se esconde
diante dos nossos olhos.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Love you too

Talvez a melhor maneira de sabermos de nós mesmos seja através daqueles que amamos. Não pelo que eles têm a dizer a nosso respeito, mas pelo que eles são. Porque o que eles são está refletido em nós de alguma maneira. Somos espelhos de quem nos cerca e também podemos nos ver nesses outros.

Um gosto pelo cinema, interesse pelos mesmos assuntos, sonhos que se aproximam, exatamente a mesma mania, hábitos construídos juntos, o mesmo "defeito de fábrica", expressões idiomáticas que ambos usam. Nem cabe inumerar o que nos torna semelhantes a alguém ou quando ou como.

Algo de nós está naquele amigo, naquele amor, naquele irmão. Algo que talvez nem consigamos identificar com facilidade. Ainda assim, é o que nos torna cúmplices. É o que torna aquele indivíduo diferente para nós, especial.

Dentre tantas pessoas no mundo, tantas pessoas que passam em nossos dias, quantas são as que amamos? Por que as amamos? Porque amamos o que de nós há nelas. E passamos a amar o que elas despertam em nós.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Se

Se desculpar fosse redimir
Se chamar fosse ser atendido
Se estar ao chão não fosse cair
Se amar fosse ser correspondido


Se abrir os olhos já fosse viver
Se perguntar fosse ter respostas
Se recuar não fosse conter
Se virar não fosse dar as costas


Se correr não fosse fugir
Se jogar não exigisse apostas
Se esconder não fosse mentir
Se promessas fossem propostas


Se para encontrar não precisasse ter perdido
Se apenas pensar já fosse dizer
Se a paixão tivesse sentido
Se desejar fosse igual a ter


Se sonhos fossem realidade
Se não fosse tanta hesitação
Se chorar não fosse fragilidade
Então teria sido verdade,
E não (des)ilusão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Nossa Majestade

Quem é que nunca foi conquistada por uma música do Roberto Carlos? E quem não foi, quem não gostaria de ser?

Brega ou não, o negócio é que o tal rei sabe dar pano pra manga de muitos conquistadores. Enfeita os discursos e as desculpas de vários homens, sensíveis a outro que sabe expressar em música os sentimentos que as mulheres gostam de ouvir.

Tantos casamentos com a trilha “Eu tenho tanto pra te falar, mas com palavras não sei dizer como é grande o meu amor por você...”

As letras dele aceitam até erro de concordância verbal, que tá tudo bem! (“Que foi que eu fiz pra que você me trate assim?”)

Quer dançar? “Festa de arromba”!

Rezar? “Jesus Cristo”.

Até quando o caso é de recomeçar pós-fim-de-relação, o cara tem as palavras... “Preciso acabar logo com isso / Preciso lembrar que eu existo, eu existo, eu existo.....”

Isso pra não falar da estrada de Santos, do ciúme, da mulher de 40 ou da mulher pequena, da namoradinha de um amigo meu... Enfim! Que tudo mais vá pro inferno! A minha preferida ainda é a usada para ME conquistar... “Promessa”:

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Meu amor e um travesseiro


Minha mãe mandava eu me aconselhar com o travesseiro quando eu era pequena. Não sei se era essa a razão, mas sempre fui muito apegada a ele. As crianças, normalmente, são apegadas aos seus travesseiros, dando-lhes inclusive um apelido carinhoso. Eu chamava o meu de “Nana” (som de ã no primeiro a). Letra maiúscula mesmo, pois era um bom amigo. Enxugava minhas lágrimas infantis e me despertava com conforto. Tinha cheirinho bom de sonho.

Carreguei o tal Nana comigo por muitos anos. Não admitia trocas. Apego não combina com substituição. Isso se estendeu até a adolescência (nem pense em ácaros! Eles também já eram meus amigos), até eu fazer uma viagem para visitar minha irmã e seu filho pequeno. O menino pedia sempre para dormir com o meu Nana. E eu deixava, durante todas as noites que passei na casa deles.

Na hora da despedida, com o Nana embaixo do braço, vi a carinha dele, triste por ter que ver indo embora tia e Nana. Foi assim que resolvi transferir um pedacinho do meu amor por ele na forma daquele travesseiro. O carro foi se afastando e eu o via abraçando com força o presente que a partir de então afagaria seus sonhos. Era um jeito de continuar ninando meu sobrinho à distância.

De lá para cá, passaram-se catorze anos. Meu sobrinho, agora, já tem até barba no rosto de homem. E minha alegria de tia é chegar no quarto dele e ver que, no meio de outros travesseiros, o Nana continua lá. Para dormir, ele ainda gosta do mesmo cheirinho de sonho que embalou nossas infâncias.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Mente sem lembrança

Se a vida imita a arte, a minha bem que poderia dar uma de Sétima Arte... Mais especificamente, "Brilho eterno de uma mente sem lembrança".


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pele das mãos

O cheiro da tua pele
nas minhas mãos.
Tua pele
nas minhas mãos.
Pelas minhas mãos,
tua pele.
Na minha pele, tu
nas minhas mãos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

De olhos fechados, te observo.
Respiro teu rosto.
E tudo de ti cabe no espaço
das minhas pálpebras fechadas.

domingo, 9 de agosto de 2009

Em oração


Fé pode servir para o que quer que queiramos (ou não queiramos). Fé para o que se quer, para o que não se quer... Ela tem que estar sempre do nosso lado.

Símbolo da fé, a gente aprende a rezar desde muito cedo, normalmente com a mãe, no caso de uma família religiosa. As orações de criança são sempre as mais sinceras. Eu rezava pela minha família, rezava para que o Papai-Noel visse quando eu fazia as coisas certas e para que ele estivesse dormindo quando eu errava (não sei para vocês, mas, para mim, Papai-Noel era onisciente).

Depois, passei a rezar para ser tão bela quanto a mais linda da escola e para ser tão inteligente quanto todas as minhas professoras juntas, e, se não fosse pedir demais, para ter um namorado super legal em algum momento da atribulada adolescência. Nessa idade, a gente realmente tem muita fé. Fé de que vai mudar o mundo e os pais, fé em todos os novos amigos, fé de que se está fazendo tudo certo e de que nada de ruim pode nos acontecer.

Então vieram as orações de gente grande: para não faltar grana, nem trabalho, nem saúde, nem amor. Ficamos menos pretensiosos: não faltar já está de bom tamanho! Junto disso, os agradecimentos. E as dúvidas. Porque, nessa altura, já não tinha certeza se realmente havia um Deus ouvindo tudo isso.

Mas acontecem fatos na vida das pessoas que comprovam que Ele realmente está por aí, em algum lugar, ou que, na verdade, nunca houve Deus algum. Comigo aconteceu a primeira opção. Isso explica o fato de as orações ainda fazerem parte dos meus dias ou das minhas noites. Orações cara-de-pau, daquelas que continuam pedindo mais que agradecendo, na maioria das vezes, cansando os ouvidos de Deus com as mesmas angústias e os mesmos nomes. Os pedidos é que mudam. E, através deles, percebo o quanto eu também vou mudando. E as minhas prioridades. Porque, antes, o pedido era “para sempre”. Agora, é “nunca mais”. Basta esperar para ver com qual deles Deus vai concordar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Melhor que sonhar

Abrir os olhos e te ver
é voltar à vida
e não querer dela sair
nem para sonhar.

Abrir os olhos e te ver
é melhor que sonhar.

É te ter ao alcance de um beijo
É te tocar no calor do agora
Respirar teu sonho
Saciar tua fome
Completar tua frase.

Ter teus olhos e tua boca
no mesmo verso.
Ter teus olhos.
Ter tua boca.

É te estudar
Medir tua força ao me segurar
Contar palavras
e perder-me sem falar

Brincar de céu
e ser tua estrela
Estrela do mar

Mar dos teus olhos
do teu peito aberto
Mar que te traz pra perto.