quarta-feira, 17 de abril de 2013

L.

Eu tinha 14 anos quando você nasceu.
Dizem que não existe amor à primeira vista.
Existe - o meu por você.
Eu tinha 14 anos quando você morreu.

Era quase Natal.
Você estava quase nascendo.
Era quase real.
Eu sentia você mexendo.
Lembranças, berço, enxoval.
Ninguém estava prevendo.

E faltava você.

Éramos pura ansiedade.
Éramos alegria.
De repente, saudade
do que não viria.

Faltava você.

Um e outro exame,
Algo não estava bem.
Choro, medo, pane,
Rezávamos - amém.

Então a constatação:
"O parto tem que ser agora".
Chamaram meu irmão,
um jovem pai que chora.

Você nasceu.
Não havia o que fazer.
E dois dias você viveu.
Eu ainda pude te ver.

Peguei em sua mão,
Falei com você,
Fiz uma oração
Saí à mercê.

Faltava você.

Nunca esqueci,
aquele dia, o berçário.
Nunca deixei de te amar.
18 anos depois
A gravidez eu descobri,
no dia do seu aniversário:
vamos celebrar.

Celebrar a vida
Celebrar outro bebê
Celebrar, minha querida,
Celebrar por você.

Mas ainda faltava você.

E continuará faltando.
Outra menina L. nasceu,
Sua prima-irmã.
E eu fico pensando:
você sobreviveu
Ontem, hoje, amanhã.

Você está em mim,
Está em todos da família,
Até em Benjamin,
Está em minha filha.

Porque nós te continuamos
Porque não te esquecemos
Sobre você nós falamos
Inclusive para os pequenos.

Quando olho minha cria
Vejo um pouco de você nela,
Imagino como você seria -
Meiga, esperta, bela.

Mas nunca vou saber -
Você está em outro plano.
Lá é melhor, quero crer.
Só que ano após ano,
Independente do que acontecer,
L., lembre-se que te amo.








quinta-feira, 11 de abril de 2013

Rotina

 
Acordo.
Dou de mamar.
Troco fraldas.
Troco de roupa.
Engulo café.
Dirijo.
Abasteço.
Trabalho.
Respondo e-mails.
Trabalho.
Atendo o telefone.
Almoço.
Trabalho.
Pago contas.
Faço compras.
Faço as unhas.
Leio.
Passeio.
Socializo.
Brinco.
Assisto TV.
Dou banho.
Tomo banho.
Dou de mamar.
Faço jantar.
Paro.
e
Espero
Pelo melhor:
Você.