segunda-feira, 27 de abril de 2009

Depois da aliança


“Essa aliança só está ainda no meu dedo para eu não ter que dar explicações para as pessoas...”

Não sou eu que vou explicar, portanto, não revelarei o autor dessa frase. Mas, de toda a conversa, essa foi a sentença que tomou lugar em meus pensamentos. Em meio a um turbilhão de emoções, de dores, de lágrimas e de difíceis escolhas que um término traz consigo, ainda há de se pensar no que dizer aos outros – que não fizeram parte da relação.

Sim, as pessoas que nos amam se preocupam, querem saber, querem ajudar, querem aconselhar ou apenas ouvir. Mas há situações em que não se quer dizer nada a ninguém, que é para não ouvir de si mesmo a realidade. Tem horas que a vontade é de ser um superstar e ter um assessor de imprensa: “Divulga aí que foi incompatibilidade de gênios e não se fala mais no assunto”.

Dificilmente um término é suscitado por um único motivo. É uma série de razões. Listá-las e repeti-las apenas renova o sofrer. Isso quando é possível listar razões. Depois de um tempo, olha-se para trás e já não se tem mais certeza do que levou ao fim. O ponto final, por mais que pensemos o contrário, é muitas vezes involuntário e incontrolável. Os fatos nos atropelam. Passado o susto – ou durante – cada um dos dois se percebe sozinho e em pistas diferentes.

É na árdua tentativa de voltar a caminhar que fica latente a pergunta: Como explicar o que o próprio coração ainda está tentando entender?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Diálogos II


Ele: Quem está cantando?
Ela: Carla Bruni.
Ele: Quem é Carla Bruni?
Ela: É uma italiana, criada na França, ex-modelo, de família tradicional. É linda, tem essa voz sensual que você está ouvindo, já teve vários homens maravilhosos, é rica e agora está casada com o Presidente da França.
(Pausa)
Ela continua: Eu inclusive estou muito a fim de criar uma comunidade no orkut: “Quero ser Carla Bruni”.
Ele: Poxa... Nesse caso, vou criar a comunidade “Quero ser o Presidente da França”!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Diálogos (I)

Ele: Então, vamos conversar.
Ela: Ah, finalmente! Vamos conversar!
Ele: Então...
Ela: Então!
Ele: O que você queria falar?
Ela: Você queria falar!
Ele: Sim, eu queria falar porque você queria falar.
Ela: Bem, agora eu quero ouvir.
Ele: Você não tem nada pra falar?
Ela: Eu quero saber o que você tem para me falar.
Ele: Mas eu não tenho nada! Você é que sempre quer conversar sobre as coisas.
Ela: Eu? Mas se foi você quem chamou!
Ele: Porque eu sei que você sempre quer falar. Não quer falar?
Ela: O que você quer que eu fale?
Ele: Não sei! Qualquer coisa! Por mim, a gente nem precisaria conversar.
Ela: Viu? Você nunca quer conversar!
Ele: Eu estou conversando.
Ela: Me deixa sozinha.
Ele: O quê?
Ela: Saia. Não quero mais falar sobre isso.
Ele: Mas... Sobre o quê?
Ela: Viu? Você não presta atenção em uma palavra do que eu digo!

terça-feira, 21 de abril de 2009

Medidas

São breves os momentos bons.
O pouco que você dá
em troca do meu muito.
O problema não é o seu pouco.
Nem o meu muito.
É que nossas medidas
sempre foram diferentes.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A grande "sacada" de Eça



Fazem parte do inconsciente popular histórias contadas há séculos, como a da Odisseia de Ulisses, ricamente contada por um famoso Homero, ou o que quer que se entenda por Homero. Os 24 cantos da Odisseia narram várias aventuras, falam de inúmeros deuses e outros personagens que são fonte de inspiração de ficcionistas até hoje. Quem já não ouviu falar da fiel Penélope, que esperou por mais de vinte anos o regresso de seu marido Ulisses, que tecia de dia e destecia à noite um manto, protelando a pressa de seus pretendentes?

Pois bem. Penélope foi realmente admirável por tanta perseverança e astúcia. Passou pelo olhar atento e disfarçado do marido, que a observava sem se revelar, testando a fidelidade da esposa. Acontece que antes disso, muitos anos antes, contou Homero que Ulisses, indo e vindo pelo mundo, acabou na Ilha de Ogígia, onde foi amorosamente acolhido pela deusa Calipso. Por oito anos, Ulisses ficou por lá, usufruindo de todo o conforto que a linda deusa lhe proporcionava, com as melhores ceias, as melhores roupas, os melhores vinhos e intermináveis noites de amor. Deuses são imortais. Ulisses poderia ter tido aquela boa vida para sempre. Mas ele não quis. Escolheu voltar para os braços de Penélope.

Pensando nisso, Eça de Queiroz inteligentemente escreveu o conto “Perfeição”, tratando justamente dos motivos que levaram nosso heroi homérico a escolher pela mortal Penélope. Ulisses tinha tudo o que se pode imaginar em Ogígia. Era paparicado por uma deusa linda e loura. Era banhado por ninfas diariamente. Não precisava se preocupar em prover os mantimentos do casal porque a deusa, naturalmente, estendia sua magia à ilha, na qual nada do bom e do melhor faltava.

Eça, escritor português do século XIX, era, antes de tudo, um homem, e compreendeu Ulisses. Na versão dele sobre essa história, o que incomodou o “Príncipe dos Povos” foi exatamente toda essa perfeição da deusa e de tudo o que a cercava. Ele queria “uma humana Penélope que eu mande, e console, e repreenda, e acuse, e contrarie, e ensine, e humilhe, e deslumbre, e por isso ame de um amor que constantemente se alimenta destes modos ondeantes, como o lume se nutre de ventos contrários!” (QUEIROZ, Eça. Obra Completa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 1997, p. 1595).

Eu já desconfiava e o Eça veio apenas para confirmar. Homem algum está interessado na perfeição feminina. Eles não querem a sempre linda, a sempre certa, a sempre sábia. A mulher não precisa ser a melhor na cama, na cozinha, no lar e no trabalho. Eles anseiam pelas imperfeições, pelas falhas. É um modo de sentirem-se melhores, de afirmarem-se homens. De ser, de alguma maneira, a sombra de Ulisses. Porque, pensando bem, todo homem desejaria estar com uma deusa. Mas deseja, de todo o coração, que sua mulher seja uma Penélope.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

De instante

Beijos demorados
Mãos entrelaçadas
Um cafuné.
Pés misturados
Barba roçando
Abraço quente
Massagem.
Descanso de pernas
Cabeça no ombro
Coberta de corpo.

Hoje,
não precisa encostar.
Nada de toques.
Distancie-se
Deixe apenas sentir
Sua respiração
No meu pescoço.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

sábado, 11 de abril de 2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Whatever!

É impressionante como ela não desiste de mim. Não me larga! Se fosse qualquer outra, já teria me transformado em passado. Mas ela não. Ela embestou em mim e pronto. Já me viu chorando por outra pessoa. Já me viu inclusive com outras pessoas. E ainda assim ela me quer por perto. Já briguei com ela. Várias vezes. Xinguei. Perdi a paciência. Ela não se afasta. Não abandona a ideia de conseguir dormir comigo. Insiste em querer estar ao meu lado, mesmo que em silêncio. Nunca tive isso... alguém que não se importa com meus desleixos, que aceita o pouco que posso lhe dar e que ainda beija os meus pés. Ela gosta de sentir meu cheiro em minhas roupas. Gosta das mesmas comidas que eu. Gosta de deitar a cabeça na minha barriga e deixar a minha respiração embalá-la. Às vezes eu a deixo por horas, dias. Penso que ela então partirá e esquecerá. Ela não parte. Ela não desiste. E ao invés de me agredir quando retorno, recebe-me na maior alegria. Alguns podem achar que isso é masoquismo da parte dela. Não acho. Acho que ela é a única que gosta do que eu realmente sou. A única que me enxerga com clareza. E que se propôs a ser minha. Não interessa o que os outros pensam. Sim... É apenas um bichinho. Whatever! Agora sou eu que não consigo largá-la.

sábado, 4 de abril de 2009

Um show (!)


Quis tanto e ontem eu consegui: fui ao show do Marcelo Camelo. Gravação do DVD. Não teve aquela história de “errou, faz de novo” pra aparecer bonitinho no vídeo. Foi do jeito que foi, com alguns erros, com semibeijo da Mallu Magalhães, com a invasão de um fã, com tudo o que é um show de verdade. E foi lindo!

Mas como é interessante ir a um show e prestar um pouco de atenção ao que se passa em volta, e não apenas no palco. Todos que são fãs de carteirinha do astro da noite se fazem presente. Uma vez lá, e esperando ansiosamente o início do show, todos os comentários rolam em torno do trabalho do artista, da melhor música, de quem tem a gravação mais rara, de quem sabe mais da vida do cara. Apostas de qual será a ordem de apresentação das músicas. Sugestões do que deve ser incluído ou deixado de fora. Qualquer um vira produtor nessa hora.

Aí o show começa. É quando a gente se dá conta de que aquela ideia de curtir o som, de escutar a voz que você só conhece por meio de um CD, não vai ser bem assim. O público se entusiasma de um jeito, se deixa levar por tamanha emoção, que canta junto, palavra por palavra, letra por letra, todas as músicas. Até o instrumental é imitado por uns e outros, que gritam na tentativa de se aproximar do som do violão, da bateria, de qualquer instrumento que esteja tocando no momento.

Com Marcelo Camelo não consegui me deter apenas nele e em sua timidez cantante. Os fãs disputaram minha atenção e meus olhares. Quando uma nova música começava, a vibração vinha pelo chão, pelo ar, pelo embalo. Cada um dos presentes sentia-se em dueto com Camelo. Não existe ridículo nessa hora. Existe cumplicidade com a letra, com os acordes, com o sentimento despertado pela música. Mesmo que cada um evoque seus próprios sentimentos.

Ouvindo atentamente a letra de uma das canções dele, cantada por um fanático entusiasmado ao meu lado, fiz toda uma nova interpretação do que a música poderia dizer. Ele se apropriou da canção e eu fiquei mais tocada com a versão daquele cara desconhecido no meio da multidão que com as várias vezes que escutara a mesma melodia no meu CD.

Assim, esse show me valeu para voltar a pensar no poder que uma boa música pode ter. Na quantidade de gente que se sensibiliza com o belo. Que canta e se encanta e não está nem aí em ser desafinado. A magia não está tanto na voz e em todo o conjunto de fatores que fazem uma música de qualidade. Está no modo como nos alcança e em como ficamos depois dela.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O amor é fodido


“Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.

Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances - porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.

Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa ser o que é. Só na solidão permanece...

Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem que haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo".


Não tenho mais nada para escrever hoje. O Miguel Esteves Cardoso, em seu livro “O amor é fodido”, já disse tudo. Ou mais. É isso... Resolvi não me ocupar em dizer algo que esse escritor português já falou tão bem. O amor é fodido mesmo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

DÚVIDAS

Havia dúvidas. Dúvidas sobre as escolhas, dúvidas sobre as pessoas, dúvidas sobre as próprias dúvidas.

Queria estar com ela, mas tinha dúvidas. Seria a mulher ideal? Seria para sempre? Seria um início ou seria o início do fim? Seria tudo o que ele havia sonhado?

Tantas dúvidas... Seria uma boa mãe para seus filhos? Seria o que ele imaginava que seria?

E mais... Seria mesmo amor?

Ele achava que já havia conhecido o tal amor. Havia passado por ele. Agora era outra coisa. Era diferente. Ou será que antes não era bem o que ele pensava que fosse?

Dúvidas. Dúvidas sobre os motivos. Os motivos dele. Os motivos dos dois. Por quê? Desde quando? Até quando? Encheu-se de dúvidas. Muitas dúvidas. Todas as dúvidas. Entendeu que as dúvidas seriam sempre duuuuuuuuuvidas. E que podem ser dádivas. E que podem ser súbitas. E que há

vidas

nas

vidas

(?)