A minha voz é calada. É escalada até um topo que não consigo enxergar. É descolada dentro de mim, never outside. É na calada da noite que a ouço e silencio.
A minha voz é sussurro, é segredo, é medo e vergonha. Ela foge - de mim e de você - e passa temporadas fora, ausente, muda. Então ela muda e às vezes volta, se solta, reviravolta. Se faz engraçada, gozada e logo entristece, padece, se apaga.
A minha voz está nas minhas mãos, que ora se cansam e tantas vezes a abandonam - desencontro. A minha voz está nos meus olhos, cegos com tanta luz, tanto pus, tantos nós. A minha voz está no meu peito, pulsando, doendo e apertando, rompendo artérias e palavras, disparando com o belo e parando com o fatal, o letal, a mortal indiferença mundana. A minha voz está no meu útero, sendo concebida e esquecida, gerando cólica e vida, cólera e dor. Então aborto minha voz, um parto normal - parte de mim, descarte, ex-pele. Um luto a sós.
Mas ela brota e volta e me arromba. E grita, me agita, perfura. Então minha voz perdura, candura, costura. Surge no sonho, no trânsito, no banho, no altar. E me cerca, me guia, me isola, me amola... Até sair - num som frouxo, arredio, assobio sem sopro. Uma voz saída que não é mais minha - é descuido.