quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mojitos


Voltava hoje do supermercado, andando, carregada de sacolas, e não pude deixar de lembrar...

Foi no meu primeiro ano de vida independente, morando sozinha, pagando minhas contas, naquele apartamento pelo qual me apaixonei no instante em que nele entrei. Foi no ano em que meu coração se partiu em vários pedaços irrecuperáveis, e que foi, depois, cuidadosamente tratado, a ponto de voltar batendo ainda mais forte. Foi o ano em que publiquei meu primeiro livro e que, ficando tanto tempo a sós, percebi que eu realmente gostava da minha companhia. Foi naquele ano, dentre tantas mudanças pessoais, que eu conheci uma das pessoas que levo sempre em meu coração, independente da distância.

O encontro foi por acaso, duas gaúchas recém chegadas e perdidas na cidade catarinense. A troca de telefones e o primeiro contato: “Vamos ao cinema?”. O filme não podia ter sido escolha pior para aquele momento: “O amor não tira férias”. Enquanto ambas tentávamos não pensar nas relações recém rompidas, víamos Cameron Diaz conseguindo chorar por Jude Law, e Kate Winslet retomar a confiança na vida e no amor com Jack Black. Choramos, claro! E talvez a cumplicidade das lágrimas de expectadoras românticas tenha ajudado ainda mais no início da amizade.

Eu não tinha carro, mas sabia que, num belo domingo de sol, eu receberia o telefonema dela para irmos juntas à praia. Sabia que, nos sábados à noite, a carona para Balneário Camboriú também estava garantida com segurança. Em contrapartida, ela sabia que, ao sair do trabalho, às 10 da noite, ela encontraria as portas do meu apartamento abertas para ela, e malzbier gelada na geladeira. Sabia que quando eu preparasse feijão, eu a chamaria para o almoço. Tínhamos uma à outra e isso nos mantinha fortes longe das famílias. E tínhamos mojitos... Nada poderia agradá-la mais que um bom papo regado a mojitos.

Então, em um dia de verão, ela ligou. Estava tão triste, que preferiria falar pessoalmente. Passei o dia preocupada com a amiga que, em geral, estava mais alto-astral que eu. Limpei todo o apartamento, pensei no prato que prepararia especialmente para ela e tive a grande ideia: vou aprender a preparar mojitos! Liguei para fontes cubanas para aprender como fazer, anotei tudo e fui ao supermercado. Comprei muito mais que os ingredientes de mojitos, mas não poderia deixar para trás o mais importante: run e hortelã! Acontece que nesse supermercado não tinha hortelã. E não existe mojitos sem hortelã! Saí de lá, já carregada de compras, rumo a outro supermercado. Foi quando me dei conta do peso que, agora seria obrigada a carregar.

(Fica o conselho: quando você for fazer compras sem carro, faça-as com a cestinha, não com o carrinho de supermercados. Ou você perde a noção do peso.)

Dito isso, e achado o hortelã no outro supermercado, fui para casa no tempo que eu levaria para atravessar a cidade, pois parava a cada quatro passos para descansar os braços. Suada e muito cansada, cheguei no apartamento e coloquei todas as compras em cima da mesa. Calculei o tempo que restava até a chegada da amiga e, ao me afastar para fechar a porta, vi que uma sacola caía e que eu não a alcançaria a tempo de salvá-la. Era o que não podia ser: a sacola em que estava a garrafa de run.

Tudo a perder porque minha mesa era muito pequena. O apartamento todo com cheiro de bebida alcoólica. Quase uma hora para limpar tudo. Dor nos ombros, braços e pernas, de tanto caminhar com todo aquele peso. O jantar para preparar. Mas só uma coisa não saía da minha cabeça: o quanto minha amiga ficaria feliz se eu conseguisse surpreendê-la com mojitos. Foi no carinho por ela que achei forças para fazer todo o percurso novamente, voltar ao supermercado e comprar outra garrafa de run, mesmo que a moça do caixa me taxasse de alcoólatra a partir dali.

Confesso que não lembro qual era o problema da minha amiga naquela noite. Passou. Mas o sorriso dela por causa do mojitos ficou registrado. Ombros amigos, boa música, run e hortelã. Não precisava de mais nada. A amizade valeu todo o esforço. Uma amizade como a nossa sempre vale qualquer esforço.

7 comentários:

Zanom. disse...

Minha bebida preferida. E de Hemingway também !

Cris disse...

Bi...
Amei o texto. Que saudades...
Com certeza: uma amizade como a nossa sempre vale qualquer esforço.
Um brinde de mojito
Abração, Cris

Bibi disse...

Amei...Senti mais saudades...Chorei ao ler....E graças a esse amizade regada a Mojitos que conheci umas das pessoas mais iluminadas que fazem parte da minha vida...VC! Saudadess

BlogdaPri disse...

Oi, tudo bem ? Passei aqui pra conhecer seu blog e adorei, bem fofo !! Passa lá tb pra conferir as novidades do Blog da Pri, ok ? Já estou te seguindo por aqui tb !!! bjss PRI

mãe disse...

Saudades da Cris !!!!!!!!
Esta amizade é muito especial, sei disso.
Bjs

Bee disse...

Sinto saudades também, Cris e Bibi... Minhas melhores recordações de SC, que estão sempre no meu coração... Sempre!

Beijos para vocês!

Anônimo disse...

Amiga, que lindo!!!! Estou com saudades de você e sempre estou por aqui, para matar a saudade...
Rita