domingo, 29 de março de 2020

Quarentena - dia 10

O combinado com meu marido para esse sábado era de que eu poderia dormir um pouco mais, enquanto ele tomaria conta das crianças. Não sei como é na casa de vocês, mas aqui em casa, a palavra que mais sai da boca de minhas lindas filhas é "Mãe". Só que hoje, para variar, consegui ficar na cama até umas 10h da manhã. Recebi visitas, claro. Manuela foi até o meu quarto umas duas vezes e Letícia, outras duas. O pai ia resgatá-las e fechava a porta, para fazer de conta que nada tinha acontecido, na tentativa de me deixar dormir um pouco mais. É uma boa estratégia, da qual usufruí até resolver levantar e ver como todos estavam. Todos estavam na sala de TV, assistindo Frozen II (de novo!) e ninguém tinha tomado café da manhã até então.

O almoço hoje também foi por conta do maridão. Não, ele não cozinha, mas tem ótimas habilidades em pedir delivery! Foi um yakisoba delicioso e sem nenhum trabalho!

Como as tarefas das aulas de Arte das duas estudantes da casa estavam atrasadas, criei coragem, coloquei todas as tintas e pincéis à disposição, respirei fundo e começamos os trabalhos! Mas, como eu devia imaginar, para um trabalho de Arte bem elaborado, não bastam tintas, é preciso muito gliter, cola, adesivos e tudo que seja atrativo para as crianças. Elas ficaram um tempão entretidas ali e também ficaram sujas de tinta - lógico! Não que eu vá oferecer essa atividade todos os dias para elas, mas como é bom vê-las pintando, interagindo, conversando sobre as cores e os recursos e querendo fazer muito mais! Letícia não costuma ficar entusiasmada assim com as tarefas de matemática. Por que será?


Passamos boa parte da tarde brincando de balões, montando quebra-cabeça e assistindo a "O rei leão" (o antigo mesmo, em desenho animado, lançado em 94). É tão interessante a reação de cada uma das minhas meninas ao assistirem a filmes. Inevitavelmente, há um dilema em cada filme, uns mais tristes que os outros, mais difíceis ou mais fácies. Em filmes infantis, eles são sempre resolvidos e o final é feliz. Letícia, porém, não consegue lidar bem com o clímax da narrativa. Ela fecha os olhos, sai da sala, vem pro meu colo ou desliga o filme, simplesmente. É demais para ela. Ela sofre, chora, fica inconformada, como se realmente nada fosse se solucionar. Um olhar intenso sobre a vida. Já a Manuela curte cada parte do filme. No clímax, pede minha mão ou me abraça, mas permanece curiosa pelo que irá acontecer. Ela tem confiança no final feliz. Nunca a vi chorando ao assistir um filme, coisa que Letícia faz desde muito novinha.

Jantamos um prato que eu já havia deixado preparado ontem: Galinha Escabelada. Receita da família de uma aluna minha, ou melhor, ex-aluna. Ela foi minha aluna quando tinha 9 anos e estava no 3º ano. Naquela época e na escola em que eu trabalhava, os professores eram muito respeitados e uma figura importante na comunidade. Lembro que as famílias dos meus alunos me convidavam para ir até suas casas, tomar um café da tarde ou almoçar junto com as famílias aos sábados. Foi em um almoço gostoso desses que comi a "galinha escabelado" e, claro, pedi a receita depois. Olho pra trás e vejo como aquela vivência me tornou uma profissional melhor: eu tinha a oportunidade de conhecer os lares das crianças, a dinâmica familiar, o que era possível para um de meus aluninhos e o que não era. Eu queria que eles lessem livros em casa, mas, por vezes, o único material escrito que eles tinham era um jornal velho, que usavam para limpar vidros. Criei vínculos que permanecem até hoje, apesar da distância. Essa família, da deliciosa "galinha escabelada", é um exemplo: eu fui convidada e lindamente homenageada na formatura dessa aluna. Ela é psicóloga hoje em dia. Acompanho sua história e tenho orgulho de ter feito parte dela, assim como fiz parte da história de outra que é arquiteta, outra pedagoga, outra cantora. A pedagoga, quando também me convidou para sua formatura, me disse que havia feito essa escolha inspirada na professora que eu fui para ela. Não pode haver alegria maior para uma profissional da educação.


Aqui em casa, criamos a tradição de, todo sábado, dormimos juntos, no mesmo quarto. Pegamos os colchões no quarto das meninas, colocamos ao lado de nossa cama e temos uma noite toda em família. Isso começou porque elas sempre pediam pra gente dormir com elas, pra ficar no quarto com elas, pra não sair. Aí estipulamos um dia: "Hoje não, mas sábado vamos dormir todos juntos". Essa estratégia acaba ajudando a semana toda, para que elas não fiquem insistindo que alguém fique no quarto com elas até adormecerem. Quando arrumamos tudo, recebemos uma ligação de vídeo maravilhosa, com minha mãe, meu irmão (o dindo delas) e minha irmã (a dinda). Manuela estava muito entusiasmada e resolveu mostrar todas as canções que ela sabia cantar. Quando o repertório acabou, ela começou a repeti-lo. Como é aconchegante estar com a família, mesmo que virtualmente. Um belo modo de encerrar o dia!

Um comentário:

Escritos Greice disse...

Ai, que amor!!! Dia lindo e maravilhoso!
A mãe fica cada vez mais encantada contigo e com as sobrinhas-netas! Ficamos! Beijos saudosos!