quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O que falta


"Era solteiro e nas horas vagas ficava na casa da mãe, por quem tinha grande apreço. Pelos colegas de trabalho será lembrado como um funcionário competente e prestativo. Sofreu uma parada respiratória e morreu no dia 17. Não teve filhos. Foi sepultado em Blumenau."


Era isso o que constava sobre J.F. na nota de obituário do jornal. Sua vida e sua morte resumida a cinco frases. Não o conheci, não posso dar opinião a seu respeito. Mas posso supor que existam muitas outras frases faltando nesse resumo. Frases de total importância. Frases que realmente teriam definido J.F.


Faltou falar sobre os momentos que ele dividiu com os amigos e sobre a falta que ele fará na vida desses amigos.


Faltou falar nas namoradas que teve. Ou namorados. Será que ele se apaixonou verdadeiramente? Será que amou de todo o coração? Será que um amor não correspondido foi o motivo pelo qual J.F parou de respirar?


Faltou dizer se sua infância foi feliz, se brincou na areia, se ficou com traumas, se esfolou os joelhos, se tinha medo do escuro.


Faltou comentar se ele teve espinhas, se viajou para todos os lugares que pretendia, se era alérgico a algum alimento, se gostava de computador, se era vaidoso.


Faltou falar nos sonhos que ainda pretendia realizar. Nesses filhos que talvez ele ainda pretendesse ter. Nos ideais que chegou a realizar. No futuro que agora ficará eternamente esperando por ele.


Faltou falar no essencial. No que o mantinha vivo. No que matou primeiro sua alma... para depois chegar ao corpo. Na última coisa que seus olhos viram.


Faltou falar naquilo que você e eu ainda temos tempo de fazer.


Faltou exatamente aquilo que não cabe em uma nota de obituário.

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