Nunca gostei de capas para sofá. Logo depois que minha mãe mandou para o estofamento o antigo jogo de sofás da sala - que voltou incrivelmente lindo - ela tratou de encomendar, sob medida, capas para os sofás. O estofamento novo era amarelinho, com toques de outras cores. A capa era vermelha, meio bordô, sem nada que desviasse daquela cor de esconderijo.
"É para não sujar o sofá", explicou minha mãe. E, para prevenir algo que inevitavelmente acontece na existência de qualquer móvel - o desgaste - nos sujeitamos a olhar todos os dias para aquele bordô sem graça. Não que eu não goste de bordô! Mas é que eu sabia a beleza que ele escondia. Ele escondia o original, o novo, o que estava louco para ser visto, usado, marcado.
Como me alegrava chegar em casa e perceber a leveza do ambiente sem o bordô... Era dia de lavar as capas. No dia seguinte, lá estava ele, cobrindo toda a eminente sala.
Capas de sofá escondem o que há de mais belo na casa. É como estar sempre de cortinas fechadas para a luz do dia. É como deixar os livros fechados em suas embalagens plásticas para que não amarelem. É o mesmo que dar um beijo sem abrir a boca. Que tomar banho sem estar completamente nu. Que falar com alguém ao telefone enquanto presta atenção ao programa de TV. Que entrar no mar sem molhar a cabeça.
Isso é não ser por inteiro. É se poupar da melhor parte. O objetivo é a entrega. É abrir mão de todas as capas. É deixar-se sujar com o uso. É não se proteger demais. Porque viver sob capas é perder o que realmente é bonito na vida.
Um comentário:
morte às capas de sofá!!! só odeio menos do que jogo americano :-)
Postar um comentário