terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Calo


É o engasgo
É todo o fluxo das palavras que digo com os olhos
E que você não escuta
É o que não se comunica
O que não sai de meu peito
Nem nunca alcançará o seu
O que minha alma grita
E tudo o que calo
Tudo o que absorvo
Tudo o que mora no obscuro de mim
O que você não desvenda
Que você não conecta
Que seu tato desconhece
E que cresce em mim
Como um bolo
Um rolo
Um rombo
um roubo.
Ora na foz da garganta
Ora no vazio do estômago
Ora no suor das mãos
Ou na pegada...
Que já não deixa marcas.

É disso que estou falando
Estou falando do que não é seu
Do que você repudia
Do que você foge
E do que também,
em mim,
ama.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Gentileza gera gentileza



A hora do jantar se aproxima e eu decido fazer uma sopa de legumes. O dia foi longo, o cansaço aparece, mas ainda tem tanto a fazer... Vou para a cozinha, escolho a panela, seleciono os legumes, lavo, corto. Enquanto organizo isso, aparece minha pequena ajudante de dois anos, puxa uma cadeira, fica em pé, em cima da cadeira, diante da pia, e diz "Eu ajudo". E ela ajuda mesmo, do jeitinho que sabe: lava os legumes, lava as panelinhas de brinquedo, lava as mãos, deixa tudo arrumadinho em cima da pia.

Enquanto a sopa ferve e penso que minha ajudante vai largar a pia e ir direto para os brinquedos, ela aparece na sala de jantar com seu prato, talher e copo, que ela mesma pegou da gaveta da cozinha. Posiciona na mesa do jeito que eu ensinei e pergunta: "O que mais?". Antes de mim, ela se adiantou para arrumar a mesa do jantar. Continuou levando tudo que não é perigo: colher, guardanapo, descanso de mesa. Continua sendo útil do jeitinho dela.

Meu coração já está em êxtase de alegria!

Quando tudo está pronto e sentamos para brincar de construir castelos, ela esbarra na nossa cachorrinha e, na mesma hora, fala: "Desculpa, She-ra!" (sim, nossa Shih-tzu tem nome de super-heroína).

Uma vez à mesa, depois de servir seu prato de sopa, espontaneamente, ela me diz: "Obrigada!".

Honestamente, não sei como foi que ensinamos todas essas pequenas delicadezas em dois anos e nove meses de vida. Mas, de alguma maneira, ela aprendeu. E, enquanto me emociono ao testemunhar essa pessoinha crescendo e mostrando quem é, peço a Deus, do fundo do meu coração, para que ela cresça assim, para que a vida não lhe "desensine" nesses pequenos gestos.

Eles farão com que a vida de minha filha gere um pouco mais de gentileza no mundo!