terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Presente IV


Amor, pois que é palavra essencial



Amor - pois que é palavra essencial

comece esta canção e toda a envolva.

Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,

reúna alma e desejo, membro e vulva.



Quem ousará dizer que ele é só alma?

Quem não sente no corpo a alma expandir-se

até desabrochar em puro grito

de orgasmo, num instante de infinito?



O corpo noutro corpo entrelaçado,

fundido, dissolvido, volta à origem

dos seres, que Platão viu completados:

é um, perfeito em dois; são dois em um.



Integração na cama ou já no cosmo?

Onde termina o quarto e chega aos astros?

Que força em nossos flancos nos transporta

a essa extrema região, etérea, eterna?



Ao delicioso toque do clitóris,

já tudo se transforma, num relâmpago.

Em pequenino ponto desse corpo,

a fonte, o fogo, o mel se concentraram.



Vai a penetração rompendo nuvens

e devassando sóis tão fulgurantes

que nunca a vista humana os suportara,

mas, varado de luz, o coito segue.



E prossegue e se espraia de tal sorte

que, além de nós, além da prórpia vida,

como ativa abstração que se faz carne,

a idéia de gozar está gozando.



E num sofrer de gozo entre palavras,

menos que isto, sons, arquejos, ais,

um só espasmo em nós atinge o climax:

é quando o amor morre de amor, divino.



Quantas vezes morremos um no outro,

no úmido subterrâneo da vagina,

nessa morte mais suave do que o sono:

a pausa dos sentidos, satisfeita.



Então a paz se instaura. A paz dos deuses,

estendidos na cama, qual estátuas

vestidas de suor, agradecendo

o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
 
 
(Drummond, claro!)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ele + ela = ELO


Amo estar casada contigo.


Não sei se você reparou, mas, antes de casarmos, eu sempre gostei de usar pelo menos um anel em cada mão. Mas agora, depois do casamento, a aliança me basta. Gosto de olhar minha mão, meu braço nu de qualquer coisa. Me visto do nosso amor, de tudo o que ele significa, do elo que estabelecemos.

Gosto do significado das alianças: aliados, um círculo que nos representa, não se sabe onde acaba um e começa outro.

Gosto de olhar tua mão esquerda. Vou sempre beijá-la porque é um jeito de acariciar o que temos, a nossa relação.

Não apenas expõe ao mundo todo que somos casados. Ela grita que eu te pertenço, ela sente a pulsação acelerada quando estou contigo, ela é aquela parte de ti que me toma pela mão e me leva para casa, para o nosso lar, para o nosso mundo.

Porque uma aliança não existe sozinha. Ela só existe se for ímã da outra. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"O segredo dos seus olhos"


Revendo o filme argentino que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2009, "El Secreto de sus ojos", do diretor Juan José Campanella, percebi que essa adaptação fílmica fez uma sutil, mas importantíssima, alteração no título da obra de origem, escrita por Eduardo Sacheri.

O livro se chama "La pregunta de sus ojos", o que se traduz por "A pergunta dos seus olhos".

Aí, fiquei pensando... Nos segredos... Nas perguntas... E que os olhos falam tanto pela gente, que às vezes, como diz Espósito, personagem principal, é melhor que se calem.

Todos têm segredos.

E, possivelmente, todos os nossos segredos não deixam de ser perguntas...

Qual é a sua?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sim, eu aceito

Eu já cheguei a afirmar, depois de ter me frustrado seriamente com o tema, que não queria me casar. A sentença seria um oásis para muitos homens que não têm essa pretensão. Eu seguia um ditado antigo: “Bem casado é quem bem vive”. Não fazia questão do papel, da cerimônia, dos votos, das testemunhas. Bastava viver junto e feliz.


Mas ele insistiu. Fazia questão de tudo o que manda o figurino: a cerimônia, a bênção, os convidados, o papel, a festa... Tudo! Diante de um pedido de casamento tão lindo como o que ele fez, e sabendo por experiência que viver com ele já era o que mais me fazia feliz, aceitei.

Hoje, passada a cerimônia toda, sinto-me na obrigação de alertar àqueles (especialmente àquelas) que dizem também não querer casar:

CASEM-SE!

Não estou fazendo campanha para que o casamento aconteça sem pensar, sem ter certeza de que é aquilo mesmo. Minha campanha é de que, uma vez encontrada a pessoa com quem você tem a intenção de passar boa – ou a maior – parte da sua vida, o ritual se realize.

Eu não achava que isso faria muita diferença, mas faz, sim! É importante fazer as juras de amor e fidelidade diante de todas as outras pessoas que são importantes na sua vida. Sim, elas já sabiam que havia amor ali, mas oficializar isso tem seu inestimável valor.

É importante ver no olhar do outro o quanto ele está inteiro naquela relação tanto quanto você, a ponto de demonstrar isso publicamente e, para os que acreditam, demonstrar também perante Deus.

O ritual tem sua magia, desde que o casal esteja no mesmo ritmo de certeza de que é isso mesmo que querem, com aquela pessoa. E festejar essa escolha é bom demais! É quando a gente se dá conta de que, no mundo em que vivemos, com as relações tão superficiais que nos cercam, o bonito é poder celebrar o comprometimento de duas pessoas que se amam e que sabem do que há de bom e de difícil na vida a dois.

Apesar de velho e conhecido, é só quando o discurso sai da nossa boca, que entendemos o valor e a verdade de “amar-te e respeitar-te até que a morte nos separe”. A gente sabe que precisa mais que isso: precisa amar, respeitar e viver feliz a maior parte do tempo. Fazer a relação continuar gostosa. Continuar fazendo o outro tão admirável quanto ele é naquele dia da promessa.

Assim, são vários os compromissos a dois. E por isso o dia do casamento é também o marco de que você acredita que pode fazer dar certo. E que, sem dúvidas, vale muito a pena!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Antes do casamento...

O dia do casamento é marcado pela ideia de encantamento, magia, romantismo e beleza. Mas ninguém sabe tudo o que vem antes disso. Quando falo "tudo o que vem antes", não me refiro à fase de conhecer o outro, se apaixonar, reconhecer que é a pessoa certa e decidir casar. Falo de tudo o que envolve preparar uma festa de casamento. Quer dizer, a gente ouve falar do trabalho que dá, mas não tem noção de como é, exatamente, passar por tudo isso.

Sem entrar em detalhes, fica uma impressão pessoal: a de que essa "indústria casamenteira" está desenvolvida demais para a cabeça de duas pessoas que se amam, têm planos em comum e que só querem cumprir esse ritual com tranquilidade.




segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Not so long ago...

Há não muito tempo atrás, não era tão complicada a vida de um casal. Antes dos 25 anos, no máximo, eles já estariam casados. Talvez até com um filho ou mais. O mais comum era que ela abdicasse de carreira para tomar conta do lar, do marido, das crianças. E o casamento não era uma decisão difícil de ser tomada. Em alguns casos, era a única maneira de conseguir finalmente ter sexo com aquela pessoa. E, claro, o casamento era “para sempre”.

Feliz ou infelizmente, como queira o leitor, a vida de um casal já não mais assim. A começar pelo sexo, que não precisa mais de um papel assinado para acontecer. Até os filhos já podem ser gerado antes ou sem o papel. Mas não é apenas isso, a formalidade de assinar um contrato. As principais mudanças estão mesmo na relação dos dois.

Há não muito tempo atrás, as pessoas estavam dispostas a tolerar as mais absurdas “pisadas na bola”. Estavam dispostas ou, de fato, não tinham outra opção. E me refiro especificamente às mulheres. Ser uma mulher “desquitada” não era um fardo que todas estavam preparadas para carregar.

Hoje, muito menos que batom no colarinho já é motivo suficiente para o término da relação. As mulheres já não precisam mais dos homens. Financeiramente falando. Sentimentalmente... quem não quer um amor que nos faça bem?

Então a gente entra numa relação com as dúvidas: Será que vai dar certo? Será que ele é o cara? Será que ele vai me machucar? Será que não há outro melhor por aí?

É normal! Você já sofreu, conhece vários casos que estavam indo bem e, de repente, separaram. E você é uma romântica, oras! Quer um amor digno de cinema! Você sabe que não é fácil, mas você quer toda a parte boa de estar junto.

Então é nesse ponto que a gente descobre o que não é segredo. O que estava na cara o tempo todo, mas que demanda um certo tempo para descobrir...

A gente nunca vai ter certeza de que vai dar certo. Nem de que não vai sofrer. Não há certezas. A única garantia que temos é aquela que está dentro da gente. O sentimento? Sim. Mas mais do que isso: a vontade sincera de fazer dar certo. Depende dos dois, por certo. Mas não se pode esquecer que depende de você também. Depende muito de você. Depende de você querer. Todos os dias. Inclusive nos ruins.

Porque os tempos são outros. Mas os casamentos, por ironia, ainda existem. Aos montes! E, a meu ver, estão muito melhores e mais bem pensados do que aqueles de não muito tempo atrás.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Despedida de solteira


Saindo para jantar com o futuro marido, escolhemos uma mesa muito simpática que estava ao lado de uma mesa grande, com umas 20 mulheres, mais ou menos. Conhecíamos uma delas, que nos falou se tratar de uma despedida de solteira.

Eu, às vésperas de casar, pensei em como seria a minha e se eu teria uma, para começo de história.
Só sei dizer que, se tiver alguma coisa do gênero, por favor, que não seja parecido com aquilo que vi no restaurante.
Muita civilidade para o meu gosto!
Não ouvi boas e gostosas risadas entre as amigas, nem algumas lembrando dos tempos em que iam para a balada com a noiva em questão.
Nenhuma dica preciosa para os dias de lua de mel.
Nenhuma brincadeira para deixar sem graça a moça quase casada.

Sei que minhas amigas estão planejando alguma coisa para que haja algum tipo de despedida desses meus dias sem aliança na mão esquerda.
Nada extremo, do tipo "clube das mulheres", como algumas noivas preferem.
Mas que seja um momento de distração e divertimento, até para sair um pouco da tensão pré-festa (e tantas coisas para pensar ainda).

Acho sinceramente que a minha despedida de solteira já passou sem que tivesse uma data marcada. Aconteceu com as mesmas amigas que estarão nessa próxima, pré-agendada.
Foi uma despedida sem perceber, sem querer.
Aconteceu naqueles momentos de diversão entre amigas que antecederam a noite em que conheci o homem com quem vou me casar.
Foram todas aquelas festas em que bebi, todas em que não bebi, todas em que dancei e cantei junto com a banda.
Foram os encontros de "Clube da Luluzinha" na minha casa ou na casa das outras amigas.
Foram os domingos de praia da mulherada.
Os almoços que se estendiam até o jantar. As tardes no cinema e nos cafés.

Minha despedida da vida de solteira já passou. Foi divertidíssima! Mas, sem data marcada, sem convite, sem que houvesse uma cerimônia, o meu coração já se casou com o dele.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

20 de setembro

Hoje é dia 20 de setembro.

Aqui onde estou, ninguém sabe o que isso significa.

Não importa.

Hoje, meu coração está pilchado.

Qualquer roupa que eu usar, será um Vestido de Prenda.

The Gates...

You may never reach the Gates...




But you will always have the Windows.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

O conforto das noites

Estava com essa terrível dor no pescoço que não passava. Massagem, bolsa de água quente... Nada adiantou.

Tentei tirar o travesseiro. Talvez fosse isso. Passei a noite sem ele.

Foi uma sensação estranha. A gente precisa de algum conforto na vida. E na noite. E no sono.

Foi então que eu percebi:

Minha dor só vai passar quando eu puder dormir de novo nos teus braços.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Presente III

Não resisto e vou colar o que li aqui...

"escrevo para que você me leia. Simples assim. Para que você me leia e volte, para que você me leia e pense que há algo surpreendentemente belo em mim, algo que você não viu, algo que passou por nós despercebido. Então, para ser mais clara, é possível?: para que você me leia e ame."

(Flores Azuis, Carola Saavedra, p. 42, Ed. Companhia das Letras)


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Diálogos VII

(Ele) - Não gosto de ficar te esperando. Demora muito para você chegar em casa!

(Ela) - É o tempo ideal para você fazer outras coisas: TV, computador...

(Ele) - Eu sei... Mas é que a diversão só começa depois que você chega.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O cheiro das coisas


As pessoas não entendem e acham um ato de falta de educação o que eu faço, mas, simplesmente, não consigo evitar! Quando me dou conta, já estou fazendo ou já fiz.

Pode parecer estranho, eu sei, mas tenho a mania de cheirar os alimentos antes de comer. Tudo:o café, o pão, a fruta, o feijão, o vinho, o molho de tomate.

Antes de levar à boca, aproximo do nariz para sentir o cheiro que vou comer.

Já que parece uma grosseria da minha parte, explico: o meu prazer de comer começa pelo olfato. Talvez seja por causa da lembrança de acordar na casa da minha avó já sentindo o cheirinho do café e do pão que em seguida eu encontraria na mesa. Ou a lembrança de voltar do colégio para casa e, antes de entrar, sentir o cheirinho da comida da minha mãe.

O aroma me alcança antes.

Às vezes estou no corredor do prédio e sei o que a vizinha está preparando pelo cheiro que exala.

Sim, em um restaurante por quilo, cheirar, ainda na colher, a comida que vou servir é estranho. Nesses casos públicos, só faço isso com pratos-novidade. Perdoem-me os chefs.

Os alimentos não teriam gosto se eu não sentisse seu aroma.

Até para saber se o arroz azedou, ou se algo está estragado na geladeira... Tudo pelo cheiro!

É o cheiro que já começa a me alimentar (e o que abre o apetite).

É o cheiro que conforta: o cheiro da casa da mãe, o perfume das mãos do pai que fica até na cuia de chimarrão, o cheiro do Amado, o cheiro do mar e o cheiro da chuva, o cheiro do travesseiro.

É o cheiro... A paixão se dá também pelo cheiro. O amor no cheirinho dos bebês. É o cheiro do que nutre, do que fortalece, do que dá prazer.

A comida pode alimentar meu corpo. Mas o cheiro alimenta minha alma.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Dúvidas pré-casamento

Podem dizer que é normal.

Eu não sei...

Agora, às vésperas do casamento, quando tudo já deveria estar definido na minha cabeça, quando tudo deveria ser certo, para sempre... essas dúvidas... me perturbando, dia a dia, me corroendo, acabando com a minha paz...

Uma delas, talvez a que mais me preocupe, a que tira o meu sono...

Devo usar guardanapos rosa-chá, rosa-nude ou rosa-antigo?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mojitos


Voltava hoje do supermercado, andando, carregada de sacolas, e não pude deixar de lembrar...

Foi no meu primeiro ano de vida independente, morando sozinha, pagando minhas contas, naquele apartamento pelo qual me apaixonei no instante em que nele entrei. Foi no ano em que meu coração se partiu em vários pedaços irrecuperáveis, e que foi, depois, cuidadosamente tratado, a ponto de voltar batendo ainda mais forte. Foi o ano em que publiquei meu primeiro livro e que, ficando tanto tempo a sós, percebi que eu realmente gostava da minha companhia. Foi naquele ano, dentre tantas mudanças pessoais, que eu conheci uma das pessoas que levo sempre em meu coração, independente da distância.

O encontro foi por acaso, duas gaúchas recém chegadas e perdidas na cidade catarinense. A troca de telefones e o primeiro contato: “Vamos ao cinema?”. O filme não podia ter sido escolha pior para aquele momento: “O amor não tira férias”. Enquanto ambas tentávamos não pensar nas relações recém rompidas, víamos Cameron Diaz conseguindo chorar por Jude Law, e Kate Winslet retomar a confiança na vida e no amor com Jack Black. Choramos, claro! E talvez a cumplicidade das lágrimas de expectadoras românticas tenha ajudado ainda mais no início da amizade.

Eu não tinha carro, mas sabia que, num belo domingo de sol, eu receberia o telefonema dela para irmos juntas à praia. Sabia que, nos sábados à noite, a carona para Balneário Camboriú também estava garantida com segurança. Em contrapartida, ela sabia que, ao sair do trabalho, às 10 da noite, ela encontraria as portas do meu apartamento abertas para ela, e malzbier gelada na geladeira. Sabia que quando eu preparasse feijão, eu a chamaria para o almoço. Tínhamos uma à outra e isso nos mantinha fortes longe das famílias. E tínhamos mojitos... Nada poderia agradá-la mais que um bom papo regado a mojitos.

Então, em um dia de verão, ela ligou. Estava tão triste, que preferiria falar pessoalmente. Passei o dia preocupada com a amiga que, em geral, estava mais alto-astral que eu. Limpei todo o apartamento, pensei no prato que prepararia especialmente para ela e tive a grande ideia: vou aprender a preparar mojitos! Liguei para fontes cubanas para aprender como fazer, anotei tudo e fui ao supermercado. Comprei muito mais que os ingredientes de mojitos, mas não poderia deixar para trás o mais importante: run e hortelã! Acontece que nesse supermercado não tinha hortelã. E não existe mojitos sem hortelã! Saí de lá, já carregada de compras, rumo a outro supermercado. Foi quando me dei conta do peso que, agora seria obrigada a carregar.

(Fica o conselho: quando você for fazer compras sem carro, faça-as com a cestinha, não com o carrinho de supermercados. Ou você perde a noção do peso.)

Dito isso, e achado o hortelã no outro supermercado, fui para casa no tempo que eu levaria para atravessar a cidade, pois parava a cada quatro passos para descansar os braços. Suada e muito cansada, cheguei no apartamento e coloquei todas as compras em cima da mesa. Calculei o tempo que restava até a chegada da amiga e, ao me afastar para fechar a porta, vi que uma sacola caía e que eu não a alcançaria a tempo de salvá-la. Era o que não podia ser: a sacola em que estava a garrafa de run.

Tudo a perder porque minha mesa era muito pequena. O apartamento todo com cheiro de bebida alcoólica. Quase uma hora para limpar tudo. Dor nos ombros, braços e pernas, de tanto caminhar com todo aquele peso. O jantar para preparar. Mas só uma coisa não saía da minha cabeça: o quanto minha amiga ficaria feliz se eu conseguisse surpreendê-la com mojitos. Foi no carinho por ela que achei forças para fazer todo o percurso novamente, voltar ao supermercado e comprar outra garrafa de run, mesmo que a moça do caixa me taxasse de alcoólatra a partir dali.

Confesso que não lembro qual era o problema da minha amiga naquela noite. Passou. Mas o sorriso dela por causa do mojitos ficou registrado. Ombros amigos, boa música, run e hortelã. Não precisava de mais nada. A amizade valeu todo o esforço. Uma amizade como a nossa sempre vale qualquer esforço.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fragmentos de um estudo amoroso


Inocentemente lendo para produzir uma tese... (Sobre o amor, claro!)

"Há uma percepção da paixão como curva, como um transporte que descreve um arco e declina, como febre de ressonância narcísica que arrefece: este é o momento delicado em que os amantes, colocados pela flutuação das vontades diante da imperfeição do outro (que implica a própria), e cessado o mágico encanto dado pela potência divina do entusiasmo (etimologicamente: endeusamento) passional, ou se desiludem, ou convertem a paixão numa relação amorosa baseada na aceitação do limite e da carência. Mas uma aceitação continuada e amorosa da imperfeição do outro e da própria imperfeição configura CASAMENTO."**


Então me ocorreu que talvez seja por isso que alguns casamentos duram tão pouco... Porque as pessoas não estão preparadas para aceitar as imperfeições do outro (de forma CONTINUADA e AMOROSA) e de suas próprias imperfeições.

Será?

Bem... A tese está apenas começando...


(**WISNIK, José Miguel. "A paixão dionisíaca em Tristão e Isolda". In: NOVAES, Adalto (Org.). "Os sentidos da paixão". São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 232)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ever since we met...



Desde que nos conhecemos, sempre achei diferente – para não dizer estranho – que, quando saíamos para jantar, ao invés de você se sentar ao meu lado, você sempre se sentava à minha frente. Sempre.

Para mim, fazia mais sentido que você se sentasse ao meu lado... Os carinhos e beijos ficariam facilitados, e não separados por um móvel, fosse ele redondo ou retangular. Eu poderia falar junto ao seu ouvido e ficar de mãos dadas sob a toalha de mesa. Encostaria minha perna na sua e recostaria minha cabeça no seu ombro.

Mas não... Você queria sentar diante de mim. Dizia que não queria tirar os olhos dos meus. Que queria poder ficar me olhando. Então, em cada almoço ou jantar, eu concordei... Enquanto me olha, você também estende a mão através dos copos e talheres para alcançar a minha. E descansa seus pés ao lado dos meus. Por vezes, levanta-se por cima da decoração da mesa, dos pratos recém servidos, do vinho, da água, e me beija.

Hoje, depois de todo esse tempo desde o primeiro jantar a dois, eu é que te peço: sente diante de mim, não ao meu lado. Não quero mais tirar os olhos dos teus. Gosto de ver nosso mundo refletido no teu olhar. Não preciso ver em volta. Tudo está no teu olhar. O ambiente, a luminosidade, o mar ao lado, o aspecto do que nos alimenta. Tudo em teus olhos. E o melhor é poder ver e rever, em cada jantar ou almoço, que no centro do teu olhar ainda está a minha imagem refletida.

Dispenso espelhos. Tudo que eu preciso é sair para jantar com você.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Presente II

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."

(As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Quem é você?

Fico prestando atenção naquele momento, no hospital, quando uma criança está para nascer... Todos estão lá, ansiosos, se aglomerando para ver o novo rostinho, ouvir o chorinho, acompanhar cada detalhe.

Acho que não é apenas para ver com quem o bebê se parece.

É todo um novo ser a descobrir, a conhecer. É o momento em que ele está se apresentando para o mundo e a gente quer logo saber quem é essa pessoinha... Cada feição, cada jeitinho de olhar, o modo e o quanto chora ou dorme. Tudo, aos pouquinhos, vai desvendando quem é esse ser que toma todas as atenções.

Queremos logo descobrir do que ele gosta e do que não gosta, de que cor são os olhos, se tem algum sinal na pele, se tem muito ou pouco cabelo, o que o faz chorar e o que o acalma. Queremos saber com que amigos andará, se vai gostar mais de matemática ou de português, se preferirá ficar em casa ou na rua, com quantos anos irá se apaixonar e qual será seu primeiro trabalho.

Talvez seja por isso que as pessoas ainda estejam gerando novas vidas. Porque um bebê é um conjunto de mistérios rodeado de amor. E desvendá-lo é simplesmente mágico.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Casa comigo?



"Porque eu te amo, porque você é tudo o que sonhei, porque me vejo em ti, porque tu tens os defeitos mais respeitáveis e as qualidades mais admiráveis, porque você me faz muito feliz e porque você é a única que eu quero que seja testemunha de tudo o que sou e serei...

Casa comigo?"


(H.C.)

Happy!



Por mais auto-ajuda que possa parecer,

o negócio é não ser do tipo que sabe agora do tempo que foi feliz no passado...

Bom mesmo é perceber o quanto se é feliz agora

E saber direitinho dos motivos!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

DIÁLOGOS VI


(Atendente) - Idade?

(Eu) - 30.

((Atendente) - Tem filhos?

(Eu) - Não.

(Atendente) - É casada?

(Eu) - Não. União estável. Não é casamento.

(Atendente) - É... Também acho que casamento não é estável.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Arco-íris

Você pode até me julgar boba, boazinha demais.

Mas agora entendo:

Enquanto alguns se esforçam para trazer dias de tempestade a quem os feriu, todos os dias,

Eu me esforço para construir o arco-íris que vem depois da ferida.

Todos os dias.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Síndrome de Machado


É quando te encontro que percebo o que há de machadiano em mim:

a fixação pelo olhar.

Pelo teu olhar.

Não são olhos de ressaca.

Nem combinariam contigo.

Agora vejo que ainda busco em ti um certo olhar...

de aprovação.

Orgulho.

Olhos de ressaca, não.

Olhos de mar aberto.

domingo, 4 de julho de 2010

Lixo


Lixo todo mundo tem em casa. Em várias partes da casa: banheiro, quarto, cozinha. E nele é depositado tudo o que não presta, tudo o que não tem mais utilidade para nós. Lixo todo mundo tem.

Pensemos no que colocamos no lixo... Restos de comida, latas vazias, papéis amassados, pontas de lápis, papel higiênico usado, fios de cabelo que ficaram na escova, frutas estragadas que tiveram seu sabor desperdiçado.

Quão significativo é rasgar uma fotografia e colocá-la no lixo? Uma carta, um número de telefone?

Quanto de nós já foi para o lixo? Nossas recordações, nossos velhos conhecidos, nossos efêmeros amigos e amores. O CD que não toca mais. A flor murcha que perdeu seu perfume. O endereço que nunca chegou a ser visitado. As notas de compras que perderam seu valor.

Até mesmo no computador há lixeira. E dentro dela já se perderam os e-mails que um dia nos encantaram, os trabalhos digitados que tanto esforço nos exigiram, o livro que desistimos de terminar de escrever. Ou de começar.

Muito de nós já foi para o lixo. O lixo de casa, o lixo do trabalho, o lixo da rua, a lata de lixo. Foi para o lixo o que já fez parte de nós um dia e que dificilmente será resgatado no lixão. Quem reaproveitaria o nosso lixo?

O que colocamos no lixo ou guardamos com toda cautela é uma escolha nossa. Por vezes, o que eu decido guardar, você colocaria no lixo. Aquela entrada de cinema, o papelzinho da bala, o pacote daquele presente, um recorte de jornal, um vidro de perfume vazio. Pode ser que um dia eu resolva colocar tudo isso na lixeira e deixar que o caminhão do lixo leve tudo embora.

Pode ser...

Não hoje. Não ainda.

Há certas coisas que nunca vão para o lixo.

sábado, 19 de junho de 2010

Na Ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

(José Saramago, 16/11/1922 - 18/06/2010)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Luto

Hoje perdemos um grande homem, uma grande mente, um grande escritor.

E eu estou particularmente desolada porque José Saramago morreu.

Segue, aqui, uma pequena narrativa dele:

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mau tempo?


Cheguei na sala de cinema uns 10 ou 15 minutos antes de iniciar a sessão.
Foi aí que percebi: as pessoas não têm mais tempo para o que não é bom.
Explico: olhei para o lado, e ninguém mais tinha tempo de ficar olhando para a tela em branco, pensando na vida, ou conversando com a pessoa que estava ao lado enquanto o filme não começava.
Estavam ligadas aos celulares, mandando e-mails, torpedos, tudo que preenchesse aquele tempo “perdido”.

As pessoas se enchem de remédios porque não têm tempo de ficar em casa, “de molho”, se recuperando de uma gripe, por exemplo.

Ou às vezes é o caso de o luto estar ali, doendo no coração, mas logo vem um psiquiatra dando remédios para que não se vivencie aquele momento, para passar melhor por ele, para não sentir.

Tempo para chorar. Tempo para lamentar. Tempo para sofrer.

Tempo para ficar cansado e para descansar.

Tempo para curar. Tempo para esperar. Esperar a chuva passar, esperar o filme começar, esperar a noite chegar. É só uma questão de tempo.

A vida moderna tem nos exigido que pulemos esse tempo todo. Que o preenchamos com outras coisas úteis (?).

Eu mesma já reparei que, quanto menor o texto postado aqui, mais leitores. Quanto maior, menos pessoas têm tempo suficiente para ler.

Tire um tempinho para pensar sobre isso... E sobre o quanto esse tempo todo ainda nos é necessário.

Ah! E pense por nós dois, porque eu tô sem tempo. Tenho que ir!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Já que amanhã é Dia dos Namorados...

Eu não preciso que tu sejas poeta.

Não preciso que tu gostes de escrever e escreva como um Machado. Ou Drummond.

Não preciso que tu ouças as mesmas músicas francesas que eu.

Tu não precisas ser fã do Chico, do Marcelo Camelo, nem saber quem é Proust.

Não quero que tu sejas diferente do que tu és.

Eu te admiro e te amo pelo homem que tu és.

Porque tu és sempre agradável com todo mundo.

Porque tu tens a praticidade que eu não tenho.

Porque tu sabes pensar com calma e com rapidez nas situações mais complicadas.

Porque tu entendes de política, de economia, de questões sociais que eu gostaria de entender.

Porque tu te importas com quem te quer bem.

Porque tu és uma excelente companhia.

Porque tu gostas de animais.

Porque tu és inteligente, educado, solícito, amigo. E bons amigos são raros.

Eu te admiro pela tua franqueza, pela tua força e especialmente por tu ter a coragem de admitir tuas fraquezas.

Eu te admiro e te amo pelo que tu és comigo.

Pela forma carinhosa como tu me tratas.

Por tu te interessares por mim e por isso que tu chamas de "meu mundo", que também é teu.

Te amo porque meu coração ainda dispara quando te vejo.

Eu te amo porque me sinto bem ao teu lado, porque me sinto em casa nos teus braços.

Eu te amo porque eu te admiro porque eu te quero porque eu te amo.

Eu te amo por todos os motivos.

Eu te amo por motivo algum.

Eu te amo porque tu és, todos os dias, o meu melhor motivo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Pelos livros de minha mãe



Quando eu era pequena, as viagens que meu pai sempre fazia tinham dois lados: o ruim, de ele estar longe, e o bom, que era a possibilidade de poder dormir com a mãe. Lógico que não era algo fácil, já que a disputa entre os irmãos era acirrada. Dormir com a mãe era um privilégio, uma honra! Era estar no melhor quarto da casa, com os carinhos de filho exclusivo, enquanto os outros três irmãos dormiam em seus quartos habituais e, claro, sem a mesma graça.

Quando finalmente chegava a minha vez de dormir com ela, lembro que, invariavelmente, antes de dormir, ela lia. Sua fome por livros era noturna. Com a luz do abajur ligada, confortavelmente recostada no encosto vermelho da cama, ela lia. Livros de todas as cores e espessuras. Com eles, minha mãe se ausentava um pouco do nosso mundinho e se perdia no mundo que os livros lhe ofereciam.

Eu queria aquele mundo para mim. Queria fazer aquelas viagens com ela. Queria aprender a ler.

Assim que comecei a decifrar as primeiras letras, as primeiras palavras (todas ensinadas por ela), minha realização era poder ficar encostadinha no peito da minha mãe para ler junto com ela. Não importava o livro. Página por página, eu acompanhava a leitura de minha mãe. No tempo em que ela sorvia duas páginas, eu lia, com orgulho e presteza, a última palavra de cada linha de todas as páginas nas quais os olhos dela também repousavam.

Finalmente, líamos juntas. Ela lia tudo. Eu, algumas palavras. Mas isso me bastava para me sentir tão capaz de me inserir no mundo da leitura quanto ela. Agora, eu também sabia ler!

Por causa dessas palavrinhas de final de linha que eu conseguia decifrar, me sentia mais próxima das letras e da minha mãe. Ela e eu: leitoras. Sabia que chegaria o dia em que eu conseguiria ler tanto quanto ela. Foi por causa da leitura dela que eu quis ler também. As palavras eram minha chance de um dia ser tão especial quanto minha mãe.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A relationship


O que eu quero numa relação é leveza.

Detesto cobranças, detesto me sentir testada, não sei viver com brigas o tempo todo. Isso não me serve.

Eu preciso confiar para não viver num inferno.

Eu preciso que o outro confie em mim para eu não viver preocupada com o que o outro vai pensar ou deixar de pensar.

Para mim, medo bloqueia, não liberta.

Eu quero você sem medo, com ônus e bônus.

Eu quero almoços de domingo em família.

Eu quero planos juntos, sem o receio de "se ainda estivermos juntos".

Eu quero apoio de quem está do meu lado e admiração, não por me achar bonita, mas por achar que eu sou diferente.

Não quero estar junto o tempo todo, mas quero que, quando estivermos juntos, sejam os melhores momentos do dia.

Não quero acabar com a individualidade de ninguém, nem quero que invadam a minha.

Quando discuto, discuto o problema do momento, não todos os outros que já foram discutidos.

Quero um podendo ajudar o outro, não um tendo que ajudar o outro.

Quero falar o que penso sem pensar que serei julgada, pois, numa relação, não se julga, se argumenta.

Quero alguém que faça escolhas em favor da relação.

Não quero ninguém amando por dois. Ou a relação é de iguais, ou não é relação, é hierarquia.

E, sim... Eu também quero que você me leia. Nos olhos. Nos textos. Todos os dias.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Além de nós


Eu ainda quero saber de você. Você está feliz? A vida é para você tudo aquilo que imaginávamos que seria?

Eu sei que o convencional é não saber mais de você. Mas... e se eu me importo? Se nunca deixarei de me importar? Como não me importar depois de tudo?

Às vezes penso se você ainda ri daquele jeito, franzindo o nariz e soltando os ombros. Se você parou de fumar. Se continua esfregando um pé no outro quando senta com as pernas estendidas. Se ainda tem medo de ir ao dentista.

Eu não queria voltar no tempo. Só queria saber como teria sido. Queria ter visto os dias que nos empenhamos tanto em imaginar. E que se esvaziaram de nós.

As festas, as reuniões familiares, os amigos, as noites, os dias, os filhos – que teremos com outras pessoas. Os sonhos que cancelamos. As vidas que podamos.

Porque houve um momento em que tudo aquilo deixou de nos parecer certo. Em que você e eu não combinávamos. Houve o momento em que escolhemos diferente.
E soltamos as mãos. E desviamos os olhares. E a vida não deu “pause” por causa disso.

Casamos. Eu com ele. Você com ela.

Novas histórias. Novos enlaces. Outras pessoas.

Somos outras pessoas.

Não somos mais parte do “nós”, mas dessa alteridade que nos é alheia.

Ainda assim, o que passou nunca deixará de ter sido.

Um fim que não foi morte.

Não te matei em mim.

Não morri em você.

(Sobre)Vivemos para lados opostos.

Para além do que fomos nós.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sophie Calle não me pediu, mas...


As palavras não bastam.
Você pode explicar, repetir, argumentar, explicar de novo e de novo...
Isso nunca bastará para eu entender como foi que você deixou de me amar.
Não diga que ama, se está dizendo que não dá mais.
Suas palavras não me completam.
Suas palavras não me dizem.
O que você tinha a me dizer terminou, com assinatura e tudo, e eu continuava procurando mais palavras, mais palavras, mais palavras.
Palavras diferentes.
Palavras que te desmentissem.
Palavras que enxugassem minha dor,
Que beijassem minhas mãos e meus olhos,
Que não fossem tudo o que suas palavras foram.
Cada palavra me matou.
Uma a uma, eu morri.
Meu nome
Seu nome
Separados pelo nosso fim.
Suas palavras: um excesso.
Melhor ter ficado sem elas(?).
Antes, suas palavras me complementavam.
Aí você escreveu mais.
Uma carta a mais.
Foi demais.
Foi mais do que eu podia ler.
Mais do que eu podia amar.
Sobrafardofim.


(PS1: O porquê desse texto está explicado no site da exposição "Cuide de você", de Sophie Calle, que passou por Salvador e deixou marcas em mim.)
(PS2: Para quem quiser conferir a carta de Gregóire para Sophie, basta clicar aqui.)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um pouco de música

Só porque acho lindo o que o inglês Jamie Cullum fez com essa música... (e com tantas outras)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Twitter



Meus alunos me contaram que nesse tal de twitter (pois é, nunca fiz questão de tomar conhecimento sobre esse negócio) as pessoas colocam coisas do tipo "fui tomar banho", "estou indo pra faculdade", "cheguei em casa", "cansado", "feliz".

Fiquei pensando... Em que momento as pessoas pararam de falar umas com as outras e, agora, sentem necessidade de dar satisfação a um computador?

Com base nisso, continuo bem sem twittar.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Ave-Maria

Há alguns dias tenho repetido uma rotina de percurso que me mantém dentro do carro no horário das 18 horas, invariavelmente. Everyday. De segunda a sexta-feira. Já que o recomendado é não usar o telefone celular enquanto se está dirigindo, que muito menos se pode ter acesso à internet, e que cansei dos CDs que tenho no veículo, acabo buscando nas rádios locais alguma distração, a sorte de tocar durante aquele percurso a música que estou gostando. Afinal, já que não há outro jeito a não ser encarar o trânsito, que seja da “menos pior” maneira.

Dia desses, trocando de uma estação a outra, qual não foi minha surpresa ao me deparar com um costume que eu pensava estar extinto: a Ave-Maria das 18 horas. Dentre tantas interpretações, que costumamos conferir inclusive em cerimônias de casamento, uma das minhas preferidas é essa de um espetáculo do Andre Rieu, interpretada por Mirusia Louwerse.



Esse costume que veio de Portugal permanece. Vem de um tempo em que as pessoas não usavam relógio e que a marca do final de um dia de trabalho era dada por essa canção-oração. Era o momento de todos rezarem juntos. O momento que não é nem dia, nem noite. É mistério. É reflexão do que já foi e anúncio do que está por vir.

Escute.

A música, tão sensivelmente interpretada, traz uma certa tranquilidade. Paz.

Em seguida, uma ponta de solidão.

E gratidão.

Certeza de que a humanidade é capaz de realizar o sublime.

É arte.

É o que relaxa. Um toque de religiosidade no meu dia.

Não é apenas ouvir. É o que nunca canso de sentir.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Filosofando



Segue filosofia da minha melhor amiga sobre relacionamentos:
(Sábia filosofia, aliás!)


"Romance é um tipo de terapia gratuita.
[...]
Pra que serve uma história de amor, se não for pra ser a melhor parte das nossas vidas?"

sábado, 8 de maio de 2010

Merecido Dia

Para minha irmã, que está gerando minha sobrinha,

UM FELIZ PRIMEIRO DIA DAS MÃES!



E para minha mãe, sempre, cada uma das minhas palavras de amor e até minhas não-palavras...

"Te amo" acaba sendo pouco.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Livros podem fazer mal à saúde


Terminando o primeiro livro,

cerveja e cigarro.

No segundo,

café. Muito café.

Concluo:

Nenhuma saúde sobrevive ao fim de um livro.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Thinking...


Quando alguém diz:

"Ela faz com que eu me sinta jovem de novo"

fico me perguntando o que há de ruim em se sentir com a idade que se tem...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Do arrepio


Meu arrepio é exigente...

Só funciona

no frio

com isopor

ou, claro,

com você.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lei de Murphy pessoal


Esse tal de Edward Murphy deve ter sido um cara engraçado. Pessimistamente engraçado, claro. Mas, a partir de sua teoria, muitas outras variáveis dela se fizeram possíveis. Afinal, não é na hora em que entramos no banho que o telefone começa a tocar?

Comigo, a Lei de Murphy se aplica de um jeitinho único. Explico:

Existe, ainda e infelizmente, uma época do meu mês em que estou... digamos assim... desprovida de recursos financeiros. Vocês entenderam: acaba a grana e fico completamente sem dinheiro, contando os trocados, como vulgarmente se diz. Bem, é a época em que vou fazendo umas ginásticas financeiras e vou levando o pouco dindim até o limite, ou seja, até receber de novo.

Pois entendam: com tantas pessoas carentes no mundo, com tantos pedintes que existem na minha cidade TODOS OS DIAS DO ANO, os mais necessitados, os que mais despertam meu lado socialmente solidário, esses só me aparecem EXATAMENTE QUANDO NÃO TENHO DINHEIRO ALGUM!

É impressionante! Quando tenho algumas boas notas na carteira e poderia pagar uma refeição a um faminto de rua, nenhum deles aparece. Eles deixam para me procurar – e me achar – justamente quando eu mal consigo pagar as minhas próprias refeições.

Minha Lei de Murphy acaba sendo: "Se alguém vier me pedir dinheiro, será justamente quando eu não tenho".

Aí me pegam com uma dor na consciência danada... Fico pensando: por menos que eu tenha, essa pessoa aí tem ainda menos. E fico pensando o quão egoísta eu sou por não poder abrir mão desse pouquinho que me resta. Adivinha? Acabo sempre ajudando. Com merrecas, mas ajudo. Às vezes dou o lanche que estou levando na bolsa. Ou a passagem de ônibus. Ou o leite da criança que chora no colo da mãe. Depende da situação que aparecer.

É como se essa gente me olhasse o mês inteiro e esperasse eu chegar nesse ponto mensal de pobreza só para me testar: vamos ver se ela é capaz de fazer uma boa ação nesse aperto. E eu faço.

Ou talvez seja a mesma época em que todos os doadores anônimos da cidade também estão sem dinheiro; pode ser a fase de menor rentabilidade dos pedintes... Vai saber! Aí eles recorrem a qualquer loira que passe na rua. E eu, no meu complexo de culpa social, dou um jeito.

Não tem como a gente ser responsável por todo mundo. Também não tem como ver tanta pobreza e passar como se não fosse com a gente. Também não tem como ajudar a todos que precisam, nem de todas as formas que precisam. Mas, com ou sem grana, não tem como não tentar, mesmo que seja só um pouquinho.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Eu admito

Sim, eu admito...

De fato, escrevo melhor quando estou triste. Deprimida. No fundo do poço. Arrasada.

Mas, poxa... Desculpa...

ESTAR FELIZ É TÃO BOM!!

terça-feira, 20 de abril de 2010

DIÁLOGOS V


(Amigo 1) - Não quero ficar com esses móveis. Não me trazem nenhuma recordação boa. O fim do meu casamento foi um período muito tenso, ruim mesmo...

(Amigo 2) - Sim... Todo fim de casamento é tenso e ruim. O meu também foi.

(Amiga dos dois) - É... A questão é que, se não fosse assim, não teria sido o fim.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

No campo... No mar...


Passei minha infância em uma cidade muito pequena no interior do Rio Grande do Sul. Adorava aquela cidade, a casa, as pessoas, a escola, a professora (sim, era a minha mãe, mas mesmo assim!), os amigos. E, além de viver nessa cidadezinha, havia outra coisa que me fazia feliz naquele tempo: ir para a fazenda. Não pense em grandes latifúndios! Na verdade, eu nem lembro o tamanho exato do lugar.

Quando a gente é criança, tudo se agiganta.

Mas tem algo muito peculiar ao lugar de que me lembro muito bem. Independente de conhecer as outras pessoas que moravam por lá, todos, ao passarem uns pelos outros na estrada, levantavam gentilmente a mão, abaixavam a cabeça, em sinal de cumprimento ao outro.

Hoje, na cidade, as pessoas apenas se cumprimentam caso se conheçam. Lá não é assim. As pessoas se cumprimentam em sinal de cumplicidade. Significa: “Eu sei do tipo de vida que você gosta, e eu gosto também”. Não é preciso dizer nada. Eles sabem que podem contar uns com os outros. Eles se cumprimentam. Entendem-se, mesmo sem nunca terem conversado. Habitam o mesmo parnasiano mundo.

Nunca mais fui para a fazenda. Nem aquela, nem outras. Estou mais perto do mar que do campo. Mas algo nesse lado de cá, litorâneo, é semelhante ao anterior:

Uma vez no mar, seja em um simples barquinho de pesca ou no melhor dos iates, todos fazem parte do mesmo oceânico mundo. Todos se cumprimentam. O significado é aquele mesmo: “Eu sei do tipo de vida que você gosta, e eu gosto também”. Significa expressar com um gesto de mãos, à distância, que você também é, ao seu jeito, apaixonado pelo mar. Significa que um não deixará o outro à deriva. É a cumplicidade dos que preferem a água à terra firme.

Encontrei isso no campo e no mar. Pude me sentir acolhida nesses lugares. Mas sei que essa simples tradição também ocorre em muito outros circuitos, como o aéreo. Ou vizinhos de um condomínio. Policiais. Muitos!

As pessoas precisam de outras pessoas com quem se identifiquem. Ainda é preciso saber que você pode contar com uma ajudinha de alguém que talvez você nem conheça.

Afinal, podemos até ser ilhas, mas dentro de um mesmo arquipélago.

Ainda precisamos de iguais. Ainda. E, talvez, cada vez mais.

terça-feira, 23 de março de 2010

Se meus passos ouvissem

apenas meu coração,

meu ponto de chegada

seria sempre

o teu abraço.

terça-feira, 2 de março de 2010

Lute


Luto é luta. Todos os dias.
Luto é a luta contra toda a dor que vem em vida por causa de uma morte.
Luto é luta contra toda a saudade de tudo o que você não chegará mais a ter. De tudo o que você teve e que partiu no momento daquela morte.
Luto é luta para que todo o resto não se desfaça junto com as lágrimas.
Luto é luta pela preservação de um pouco do muito que foi.
Luto é luta contra a descrença. Em Deus, no mundo, na cura.

Luto é luta. Árdua. E não estou dizendo que você vai ganhá-la.

Luto é lida com a saudade. Sempre a saudade. Irremediável. Incontrolável.

No luto não há desca(n)so. Há momentos de calmaria, mas o luto não abandona.
O luto não morre. Ele adormece.

E, depois de um tempo (de muito tempo), você pode chamar de recuperação. De seguir a vida.
Mas você sabe... você sonha... você não esquece... O luto é a luta por aquela parte de você que também está morta.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tua toalha


Às vezes (não sempre), eu não desejo muito. Não almejo riquezas, nem declarações de amor memoráveis, nem uma vida diferente, nem fama. Às vezes (não sempre), tudo o que eu queria.... era ser tua toalha. Pode ser aquela azul que solta felpas em teu corpo, ou a verde mais áspera, ou a branca mais macia. Tanto faz. Só queria ser tua toalha.

Pode parecer carnal e superficial demais, mas qual amor-paixão não se compraz, cedo ou tarde, na carne?

Se eu pudesse ser tua toalha - não a de rosto, tão inocente e pequena - então eu me acharia todo dia, por vezes mais que uma vez por dia, bebendo em teu corpo, absorvendo gota por gota da água que te percorreu antes de mim. Abraçaria teu rosto, sim, mas também tuas costas e tuas coxas, teus braços, teu pescoço, cada pedaço teu.

Percorreria teus pelos - todos - cabelos, peito, pernas. E faria questão de enxugar especialmente aquele cantinho do ombro que você sempre deixa molhado. E a gota final que escorre do teu queixo, a derradeira, que embriaga.

Teu líquido, teus pelos, tua pele e teu cheiro em mim, secando em mim, compondo-me, até começar tudo de novo.

Porque enxugar é estar perto, é cuidar, é abraçar. É estar presente naquele curto momento de exposição íntima e pura que vem após o banho. Ser parte da tua nudez. Isso também é te amar.