sábado, 30 de maio de 2009

Tarde de maio


"Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos."



(Trecho do poema "Tarde de maio", de Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 26 de maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

Certeza

E tem como duvidar de amor para sempre
quando existe essa coisa maravilhosa a que chamamos FAMÍLIA?

:)

domingo, 17 de maio de 2009

ROSA

Deu-lhe uma rosa
que sarro!
a rosa ao contrário
é asor,
que até parece amor,
mas a rosa é toda prosa
não é prova
de amor.
Rosa não dosa
nem cura a dor.

sábado, 16 de maio de 2009

Meu número não mudou

Conheço um cara, que já me foi muito próximo, rosto e corpo de garoto, mas deve estar tão perto dos quarenta quanto eu dos trinta. Atualmente, creio que nos falamos cerca de três ou quatro vezes por ano. Não nos gostamos menos que no passado, apenas nos distanciamos pelos próprios rumos que escolhemos ou nos impuseram.

Tendo mudado o número do meu telefone celular muito recentemente, e querendo notícias dele, telefonei. Não precisei buscar o número em qualquer agenda telefônica, fosse ela de papel ou digital. Eu ainda o tenho em minha lembrança. Tantas coisas já aconteceram em nossas vidas nos últimos quatro ou cinco anos, tempo contado desde que entramos nesse processo de afastamento, ele sorri e pergunta: “Mudou o número de novo, guria?”. Mudei. E esse, aliás, é um dos motivos pelos quais nos falamos durante o ano.

Aí lembrei que o número dele permanece o mesmo desde a primeira compra de aparelho celular. Fazendo as contas, embora minha matemática não seja muito evoluída, isso já deve ter uns bons dez anos. O aparelho já mudou, mas o número continua. De repente, me dei conta do quanto manter – ou não – o número de celular diz de alguém.

Está cada vez mais facilitada e frequente a migração de uma operadora para outra. Aparece uma promoção melhor, um plano mais vantajoso e lá vamos nós, com aparelho celular em mãos, tentar gastar menos e ter melhor qualidade com outra empresa. Tudo bem que hoje é possível manter o número, apesar da mudança de operadora, mas isso é recente. Além do mais, há outros motivos para que os números sejam alterados: muda-se de cidade, de Estado, de parcerias.

Quando esse meu amigo comprou seu aparelho – e seu número – foi em conjunto com sua então namorada. Os números combinavam, como os olhares entre os dois. Mudava apenas um dígito. Os amigos que soubessem o número de um, automaticamente saberiam o número do outro. Os aparelhos eram iguais e eles podiam se ligar gratuitamente, conforme a promoção vigente no período da compra. Mais uma demonstração do quanto queriam estar juntos, do quanto estavam conectados. Tanto, que logo veio o noivado e o casamento. Eram o primeiro amor um do outro. O tipo de primeiro amor que estava dando certo.

Mas algo começou a mudar. A vidinha que ambos haviam sonhado e estavam vivendo já não bastava a ela. Sentindo-se cada vez mais desconfortável e com ânsia de mudar, mudou. De estado civil e de número de telefone. Logo ela já estava em outra operadora, com novo número de celular e novo amor.

Ele não. Ele não aceitava. Ele resistiu. Ele não queria mudar. Ele não sabia mudar. Ficou ímpar, ele e seu celular, na expectativa de voltarem a formar aquele casal, ele com ela, números querendo ser par. Ela nunca mais voltou. Nem seu número. Com o tempo, ele até acabou gostando de uma outra pessoa também e desistiu de resgatar o casamento que ele mal vira se perder. Mas o número... Esse nunca conseguiu mudar. No fundo, ele ainda tem esperança naquela antiga combinação.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

I love it!


Família. Ler manuais. Aroma de café. Rever quem amo. Escrever. Demonstrações de amor. Comprar passagem. Ganhar presentes. Dar presentes. Crianças. Flores do campo. Sexo. Brigadeiro de colher. Filmes. Longos telefonemas. Cartões. Emagrecer. Comprar artigos de papelaria. Comprar livros. Cheiro de livro novo. Fotografia. “Lagartear” no sol, depois do almoço, em dia frio do Sul. Me perder no calendário. A 9ª Sinfonia. Beijo demorado. Receber carta. Achar dinheiro em bolsos. Boiar. Tomar chimarrão. Receber visitas. Cafuné. Fazer palavras-cruzadas com minha mãe. Tomar café da manhã. Conversar. Canastra. Escutar música. Cozinhar. Hidratantes. Roupa nova. Gentilezas. Churrasco. Mar. Temaki. Dormir de edredom, de preferência em dia de chuva. Suspiro profundo da She-ra antes de dormir. Desafios. Marquinha de biquíni. Chicabon. Cheirinho e chá de erva-cidreira. Torpedos. Senso de humor. Embalo de rede. Massagem. Malzbier. Cappuccino. Lençol térmico no frio. Poesia. Barzinho com amigos. Domingo em família. Banho quente. Meus livros. Apelidos carinhosos. Ficar de pijama/camisola em casa. Falar com Deus. Promoção da TAM. Produtos de limpeza. Fazer aniversário. Dirigir cantando. Sentir friozinho na barriga. MSN com webcam. Museus. Viajar. Dançar. Meu signo. Google. Romantismo. Natal e Ano Novo. Meus travesseiros. Ensinar. Surpresas. Parque de diversões. Sonho bom. Livraria. Festa de casamento. Perfume. Usar decote. Velhinhos. Comentários no blog. Artesanato. Estrela cadente. Acesso de riso. Pés descalços. Irmãos. Sonhar acordada. Começar tudo de novo.

I hate it!


Barulho de furadeira, de avião e de carro de Fórmula 1. Ficar sem dinheiro. Engordar. Sentir saudade sem poder matá-la. Tristeza em quem amo. Tristeza. Acreditar em mentiras. Cólica menstrual. Gasolina acabando. Gripe no verão. Unha quebrada. Pontas duplas. Sinal de ocupado. Caixa postal. Falha na conexão. Atrasos. Falta de inspiração. Falta de carinho. Dirigir em dia de chuva. Conta de telefone. Cobranças (de todo tipo). Não saber o que dizer. Falta de água. Desperdício de água. Seção de esportes do jornal. Lixos misturados. Arrogância. Esquecer palavras. Esquecer aniversários. Sentir frio. Sentir-se inútil. Quebrar coisas. Bater o dedinho do pé no móvel. Morder a língua. Maquiagem borrada. Errar a receita. Heavy Metal. Cebola em conserva. Gosto de alho. Perder objetos. Lavar tênis. Fila. Faustão. Promessas não cumpridas. Gente falando durante o filme. Vírus no computador. Lã direto no corpo. Passar roupa. Fanatismo. Comprar algo e descobrir logo depois o defeito. Lixo no chão. Horário político. Torta de limão. Ser acordada quando recém peguei no sono. Desfazer malas. Pagar excesso de bagagem. Sapato de salto sem taco. Errar. Cuidar de plantas. Mofo. Queimar a boca. Dor nas costas. Celulite. Esquecer letras de músicas. Tomar remédio. Cabelo na pia. Discriminação. Sabor Califórnia. Grosseria. Prazos. Panetone. Lavar panelas. Ler por pura obrigação. Vomitar. Roupa manchada. Apostar. Brigas. Acordar cedo. Aranhas. Machismo. Mania de limpeza. Filme dublado. Arrependimento. Internetês. Não entender. Ser mal interpretada. Celular sem crédito ou sem bateria. Tirar a maquiagem depois da festa. Cerveja quente. Ser a última a saber. Espinhas. Cabelo embaraçado. Soluço. Caminhar na areia de chinelo. Violência. Meia-calça rasgada. Ronco. Chá verde. Dormir de meias. Perder o sono. Morte.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Dizem que quem ama tem medo de perder.

Esquecem de dizer que perigo maior é perder-se de si mesmo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Toda mulher já nasce mãe"


Dia desses, saindo da Universidade, me deparei com um outdoor cuja nova campanha publicitária fora criada especialmente para a data que se aproxima: o Dia das Mães. Até aí, nada de novo. O negócio é que a campanha trazia uma menininha segurando carinhosamente uma boneca e, ao lado, a seguinte frase: “Toda mulher já nasce mãe”. Foi nessa frase que o meu olhar parou. A colega ao meu lado não gostou de colocarem uma menina negra segurando uma bonequinha branca de olhos azuis, mas aí é tema para outras divagações. Meu foco, por ora, fica naquela frase...

Entendo que o laboratório ao qual a propaganda se refere tenha tido a intenção de destacar o tipo de cuidado que as mulheres têm com os outros, que é teoricamente diferenciado do cuidado que os homens têm. Mas a afirmação “Toda mulher já nasce mãe” foi um tanto quanto infeliz. Será que em agosto eles farão algo do tipo “Todo homem já nasce pai”?

Tomo a liberdade de seguir esse raciocínio, uma vez que fica subentendido que a mulher, pelo simples fato de ser mulher, será mãe. Para mim, isso apenas demonstra o conceito social ainda tão vigente de que as mulheres só se tornam mulheres realmente completas quando se tornam mães. Não importa se é uma batalhadora, bem sucedida, inteligente, bem resolvida emocionalmente ou qualquer outra coisa. É preciso ser mãe.

E se ela não quiser? Vai ser menos mulher porque não quer ser mãe? Já conheci casais que tomaram a decisão de não ter filhos. Conheço mulheres que estão muito bem decididas a nunca se tornarem mães. Mas quando elas expressam tal decisão, sempre rolam comentários como: “É mesmo? Mas por quê?”. Ninguém pergunta para uma mulher grávida: “Você decidiu ficar grávida por quê?”. A subversão é a mulher optar por não colocar mais uma criança no mundo. Há quem pense que ela deva ter algum problema ou que seja uma insensível. Ser uma opção de vida ainda é muito duro de ser aceito como “normal”.

Aí tem também a questão do romantizado instinto materno. A menininha brinca de boneca e já se vê ali o famoso instinto materno. Nem passa pela cabeça das pessoas que ela possa simplesmente estar refletindo suas próprias relações familiares na brincadeira... Mas bem, depois de ter escrito uma dissertação em que trato disso, eu garanto: instinto materno não é inato, é desenvolvido. É fato que as mães fazem coisas incríveis pelos filhos, coisas que muitos pais não fariam. Em geral, as mulheres são de fato a figura mais cuidadora perante os filhos, mas isso não é regra. Tanto não é, que a gente vê nos jornais e na TV incontáveis casos de mães que mais parecem ter raiva pelos filhos que amor. Mães que matam, mães que jogam o bebê no lixo, mães que espancam, que maltratam. Tem de tudo nesse mundo: mães e pais odiosos, e mães e pais exemplares.

Assim como existem homens que optam por não ter filhos (e isso não é tão largamente questionado), há mulheres que tomam essa mesma decisão. Isso não é defeito. É atitude. Atitude, aliás, que é tomada de maneira tão responsável quanto deve ser a de ter filhos. A escolha faz toda a diferença e valoriza ainda mais as mães, mulheres que tiveram a coragem de gerar vida. Mesmo que a gravidez tenha sido acidental, a gente sabe que há escolha. Portanto, fica registrado meu desacordo com a tal campanha do outdoor. As mulheres não nascem mães, mas poderão tornar-se. Se quiserem.