segunda-feira, 23 de março de 2009

De mala e cuia


Há mais de dois anos saí do Rio Grande do Sul. A princípio, não fui para muito longe. Estava logo ali, em Santa Catarina. Conheci um pouco da cultura de Oktoberfests e dos pescadores da Ilha da Magia. Achei o sotaque simpático (“Visse a novela ontem??” É assim mesmo: “visse” ao invés de “viste”) e o povo foi muito acolhedor. Comi ostras e marreco recheado. Admirei as belezas do litoral catarinense. E nessas novas vivências, nunca abri mão de levar comigo o meu chimarrão.

Coincidentemente, a maioria das pessoas com quem convivi por lá era gaúcha. Os colegas de trabalho, as amigas de praia, os confidentes. Com raras exceções, estava cercada de outros gaúchos. Todos dividiam a cuia comigo. Na roda de mate, mal se percebia a distância do solo gaúcho.

Depois, fui de mala e cuia, literalmente, para terras ainda mais quentes. Acho fantástica a cultura baiana, com acarajés, capoeira e esse sotaque que embala. As praias são perfeitas e o sol nordestino consegue quebrar a brancura de minha descendência ítalo-germânica. Mas sempre chega aquela horinha, aquele final de tarde... e o corpo pede pelas origens, pelo que me habituei desde a infância. Não há água de coco que mate a sede de um chimarrão.

E mesmo tendo alguns poucos gaúchos por perto, ou mesmo que alguns raros baianos tentem me acompanhar nesse costume, na maior parte das vezes acabo mateando sozinha. É o meu momento RS. Meus goles de nostalgia. Mas antes que falem, já explico. O nome disso não é bairrismo. É cultura.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Cheque sem fundos


Tive a péssima experiência de ter meu talão de cheques furtado. Não sei quem foi. Não sei onde foi. Só sei que alguém o levou. E seja-lá-quem-for está passando cheques meus em diversos estabelecimentos. Cheques sem fundos. Depois de ver o rombo na minha conta, de perceber que não via o meu talão há dias e de tomar as atitudes necessárias, os cheques foram todos sustados. A partir disso, eu não terei mais prejuízo, mas muita gente por aí ainda está tendo.

Hoje vi que o último cheque que o ladrão passou foi no valor de dois mil reais. Fiquei pensando em quem recebeu esse meu cheque. Em quem confiou numa suposta Bianca, que assinou o meu nome, assumindo a minha conta bancária. Fez-se passar por mim. Ganhou a confiança do vendedor e saiu com a mercadoria, deixando um outro alguém muito pior que eu. A pessoa que recebeu o cheque acreditou que descontaria aquele valor. Estava contando com aquilo. E acaba se vendo de mãos vazias. Enganada. Roubada por um indivíduo que olhou em seus olhos, apertou sua mão, despediu-se satisfeito com o atendimento.

Nunca recebi um cheque sem fundos, mas imagino que a experiência deva ser muito frustrante. Assim, me ocorre que, na vida, não há apenas cheques sem fundos. Há pessoas que são exatamente assim: um cheque sem fundos. Aqueles que olham com ternura, que ganham a confiança, que ganham nosso crédito, que recebem o melhor da gente... E que, cedo ou tarde, se mostram uma farsa.

A gente acredita, deposita esperanças, se entrega. E não há retorno. Não há recíproca. Não há verdade. Quem recebe um cheque deve saber que está correndo o risco de ser vítima de um golpe. E quem recebe pessoas? Há de se pensar sempre em quem pode estar nos enganando ou não? É sempre um risco? É. É sempre um risco. E não há como saber exatamente o que virá. Não há garantias. Não há como saber o quão feliz ou quão machucado se ficará depois.

O coração não é como um banco, que dá ressarcimento. Ele poderá, inclusive, cobrar: “Como é que você foi acreditar nessa pessoa?”. Não há seguradora que ampare. Não há reparação. O único consolo é lembrar que, na maioria das vezes, os cheques que recebemos ainda têm fundos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Escovas de dentes


Há certas coisas que a gente, simplesmente, não empresta. Cresci com esses princípios e os segui à risca. Namorado, lógico, está fora de cogitação! Agora, os itens mais práticos da vida que aprendi a não emprestar em hipótese alguma: calcinhas e escova de dentes. Obviamente, também nunca pedi essas coisas emprestadas. Esqueci de levar calcinha na mala? Ou compro outra ou fico sem mesmo! (Afinal, nossa intimidade também merece respirar mais livremente... E é recomendação de ginecologistas!) E se esquecer a escova de dentes (coisa que só se vai lembrar na hora que se precisa usar), o jeito sempre foi dos menos eficazes: “escovar” com o dedo, fazer bochecho com a pasta de dentes... pelo menos disfarça o mau-hálito matinal!


Existe lógica nessas restrições. Os dois objetos entram em contato com partes muito particulares dos nossos corpos. Os micróbios que estão em minha escova de dentes são meus! Não que eu fique pensando neles... Mas são unicamente meus. Se eu usar a escova de dentes de outra pessoa, é como pegar mais uns micróbios emprestados de outra boca que não a minha. Ok... Num beijo essas trocas acontecem, mas é bem mais gostoso e é a dois!

Além do mais, escova de dentes é algo significativo. Não é à toa que se usa a expressão “juntar as escovas de dentes”. Tão romântico as duas escovinhas sobre o mesmo armário do mesmo banheiro!

E aí, pensei que estava preparada para levar a minha escova de dentes para essa nova fase. Achei que ela estaria preparada para deixar de ser a única no banheiro. E fui de coração feliz: eu, uma muda de roupas e minha escova de dentes. O clima de amor, de saudade, de ser a primeira de muitas noites juntos. Jantar, beijos, o caminho do novo lar. E a revelação: “Esqueci minha escova de dentes. Vou usar a sua, tá?”.

Como assim? Como vai usar a minha? Assim? Sem problema algum para a boca dele? E os meus micróbios?

Ele não se preocupou com nada disso. Usou minha escova com a maior naturalidade. E eu, mudando mil paradigmas em minha cabeça, usei-a logo em seguida. Esqueci os micróbios deles, os meus, esqueci toda essa bobagem. Naquelas alturas, eles já estavam em lugares trocados pelos beijos. Naquela noite, aprendi que “juntar escovas de dentes” é pouco. São vidas que se juntam. Juntam-se bocas, olhos, peles, corações. Depois disso, as restrições perdem a lógica.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Durma bem


É durante o sono que a gente cresce. A gente aprende mais e de modo mais efetivo se tiver uma boa noite de sono. Dormir faz bem pra pele. É relaxante. Ajuda na recuperação de doenças. É descanso. Dormir bem torna o dia mais produtivo, menos estressante. São algumas horinhas de paz. São as férias do consciente. Durante o sono, os batimentos cardíacos ficam mais lentos, os vasos relaxam e o fluxo do sangue melhora. Em outras palavras, dormir também faz bem pro coração. E é o meu que vive me levando pra cama, me ninando e me fazendo dormir. Ele quer esse incrível benefício do meu sono. Quer o remédio natural do tempo aliado ao sono. Quer relaxar. Quer acordar pra continuar batendo só depois que a ferida curar.