terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

passo-com-passo


Todo esse tempo...


Meus passos andaram tranquilos, equilibrados, juntos.

Enquanto o mundo clamava por um par, meus passos já nasceram acompanhados. E um não andava sem o outro. A pegada de um encaixava perfeitamente com a do outro. O direito sabia se sobrepor ao esquerdo, quando necessário, ou se juntavam, lado a lado, sem que houvesse a mais remota possibilidade de separação.

Quando um se feria, o outro carregava mais peso para compensar.

Revezavam o desconhecido: água muito fria da piscina testada por um, água da banheira muito quente experimentada por outro.

Eles dividiam as dores e os prazeres: prazer de tocar grama, areia, mar. Prazer de poderem acariciar um ao outro antes de dormir. Doíam juntos de tanto perambular. Ou de dançar. E também ganhavam massagens, beijos, tratamentos de beleza, preparando-os para passos ainda mais bonitos.

Meus passos iam bem, se acompanhavam.

Cruzaram-se com outros pares de passos. Por vezes, iam de encontro a eles. Outras vezes, simplesmente acabavam seguindo caminhos opostos. Às vezes, meus passos eram pisados por outros. E doíam-se.

Por todo esse tempo.

Mas houve um momento do percurso de meus passos em que eles conheceram os seus. Os seus eram maiores, mais firmes, determinados. Seus passos se afastaram e se aproximaram dos meus. Nunca foram muito mais longe. Os seus também já haviam conhecido outros passos, mas não como os meus.

Você deixou que meus passos experimentassem suas pegadas. Meus passos cabiam nelas. Tentaram aprender com elas. Foi assim que eles puderam sentir suas dores e seus caminhos, até mesmo os atalhos.

Você fora seguido. Mas não era disso que seus passos precisavam agora. Nem os meus.

Com os seus, meus passos perceberam que o ritmo de andar pode ser mais completo quando feito por quatro. E que dois passos que acontecem ao mesmo tempo têm mais força do que um de cada vez.

Meus passos escolheram acompanhar os seus. Eles entenderam que, se ambos se machucassem, teriam outros dois para carregá-los. Que, no chão muito quente, poderiam encontrar proteção em cima dos seus.

Meus passos abriram espaço em sua jornada.
Um par era bom, mas dois pares dariam conta de qualquer caminhada...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

You can cry...


Tenho visto tantas crianças ao meu redor... Crianças rindo a valer ou chorando com toda a força e revolta. Parece-me que falta à gente, às vezes, essa coragem de rir ou chorar como criança.

Rir de besteiras. Rir bem alto. Dar gargalhadas. Rir pra qualquer coisa e pra muitas pessoas por dia. Abrir um largo sorriso só porque te desejaram um bom dia. Rir do que é engraçado e até do que não tem graça. Rir porque é bom ouvir uma risada, ainda que seja a sua.

Ou, às vezes, chorar e chorar muito. Chorar de soluçar! Chorar com ruídos, com lágrimas pesadas realmente rolando no rosto, uma em cima da outra. Chorar porque deu vontade. Chorar porque tem motivo. Ou não. Só pra chamar a atenção. Chorar porque não era assim que você queria. Chorar porque se bateu no móvel ou porque algo seu se quebrou. Chorar porque acordou sozinho, no meio da noite, assustado.

Chorar porque alguém tem que ir embora ou tem que ir trabalhar e você não quer o afastamento. Crianças não têm noção exata do tempo. O tempo de alguém ir e voltar é uma eternidade, mesmo que sejam apenas algumas horas. E elas choram por essa ausência. Depois esquecem! Distraem-se com tantas outras coisas legais. Mas realmente lamentam a partida.

Chorar porque tem que tomar remédio. Porque tem que ir ao médico. Elas choram porque precisam tomar remédio ou porque estão doentes? Não sei ao certo, mas ambas as opções são, de fato, lamentáveis.

As crianças choram... Os adultos não choram mais do mesmo jeito. As lágrimas diminuem na mesma medida em que o corpo cresce. A gente amadurece. E gente madura chora devagar, silencioso, escondido.

Pois eu digo que devemos voltar a ter crises de choro de criança. Chorar muito! Com vontade! Ficar vermelho de tanto chorar!

Talvez a gente até ganhe um beijinho, um carinho...

E depois - por que não? - a gente até pode vir a dar muita risada de novo!