Sentindo-me
praticamente uma Nova Yorkina, dispensei táxi ou über e peguei o metrô para ir
até o Aeroporto Internacional JFK. Lá no Aeroporto, é necessário pegar outro
trem, o Airtrain, para ir até o embarque. Entre fila para check in e atendimento, perdi cerca de uma hora até descobrir
que estava no aeroporto errado. Sairia de Nova York por uma porta diferente da
que entrei. O atendente gentilmente tentou me tranquilizar: “A senhora tem
tempo; se correr, consegue chegar no Aeroporto La Guardia em cerca de 40-50 minutos”.
Corri. Com
uma mala imensa e pesada, mais mochila, bolsa e sacola penduradas e um aperto
no coração, que já não aguentava mais a saudade da família. Quando cheguei
na fila enorme para pegar o táxi, comecei a chorar, na certeza de que não chegaria a tempo. Duas adolescentes
solidárias me deixaram passar na frente, poupando preciosos longos minutos de espera, para pegar o
táxi. Uma senhora até se ofereceu para me acompanhar no táxi até lá. E ainda
falam que os estadunidenses são frios e insensíveis...
No veículo,
continuei chorando: medo de perder o voo, de levar mais um dia até chegar em
casa, de ter que pagar nova passagem aérea, frustração comigo mesma por não ter
prestado atenção no detalhe do aeroporto. O taxista, um senhor de barba longa e
branca, por volta de seus 70 anos, perguntou se eu estava bem. Eu expliquei a situação.
Ele disse: “Calma, vamos pegar um atalho para fugir do trânsito. Em meia hora,
você estará no aeroporto”.
Depois de
um silêncio e as lágrimas secando, ele falou mais. Disse: “Sabe, essas coisas
acontecem. Se você perder o voo aqui, perdeu! Vai ter que lidar com isso,
comprar outra passagem, perder dinheiro. Mas chorar não vai lhe ajudar. Você
precisa ser forte e resolver. Chore quando chegar em casa, entre os seus. Aqui,
longe de tudo, você precisa ser forte. Você só pode ser frágil diante de quem
lhe ama – e obterá conforto”.
E
continuou: “Vou lhe contar que quarenta e cinco anos atrás, eu estava indo
visitar minha família, no Afeganistão, com minha esposa, e passaríamos por
Londres. Só que, chegando em solo Britânico, eles não me deixaram entrar. Não
pude continuar minha viagem, nem rever minha família. Mandaram-me retornar.
Entrei em contato com dois amigos, que se juntaram para comprar outra passagem
aérea de volta para mim. Voltei para Nova York, perdi 4000 dólares em passagem.
Não adiantava eu chorar lá. Assim como você, eu choro. Mas não havia o que
fazer.
“Quarenta e
três anos depois, precisei ir a Londres por outra razão e solicitei meu visto
de entrada. Eles negaram porque eu já tinha histórico de não ter sido aceito.
Precisei apelar legalmente. Bem, 43 anos depois, o governo Britânico se
desculpou, me deu razão e me deu livre acesso. Levou 43 anos e não foram minhas
lágrimas que resolveram. Aconteceu comigo, pode acontecer com você e a gente precisa
ser forte”.
Aquele
sábio senhor me deixou a tempo no aeroporto La Guardia. Foi minha despedida de
uma New York tão multicultural, tão imensa e lotada, tão cheia de histórias. A
minha confusão de aeroportos foi só uma delas. E embora minhas lágrimas tenham
sensibilizado aquelas mulheres na fila do táxi, o que resolveu foi a rota
alternativa do taxista, minha sorte de ter chegado com muita antecedência no
primeiro aeroporto, a tempo de correr para o segundo. E o que fica em mim desse
breve episódio são as palavras do taxista: “Seja forte aqui, longe de tudo e
entre estranhos. Quando chegar em casa, passado tudo, entre os seus, você
chora”.
Talvez eu assim o faça. Mas, entre os meus, minhas lágrimas serão apenas de alegria.