sábado, 19 de junho de 2010

Na Ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

(José Saramago, 16/11/1922 - 18/06/2010)

3 comentários:

J. Maldonado disse...

A sua morte foi uma grande perda para a comunidade lusófona.
Saramago, mais do que um escritor talentoso, foi um crítico do preconceito existente na sociedade portuguesa, ganhando assim um ódio de morte da parte da direita e da Igreja, tanto que preferiu "exilar-se" para Espanha.
RIP Saramago!

Zanom. disse...

Lembro que você me disse que iria conhecê-lo sem falta este ano :(

Bee disse...

É, amigo... Não consegui conhecê-lo pessoalmente a tempo. Vou ficar só com a ideia que faço dele a partir do que leio...
Beijo!