terça-feira, 27 de abril de 2010

Do arrepio


Meu arrepio é exigente...

Só funciona

no frio

com isopor

ou, claro,

com você.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lei de Murphy pessoal


Esse tal de Edward Murphy deve ter sido um cara engraçado. Pessimistamente engraçado, claro. Mas, a partir de sua teoria, muitas outras variáveis dela se fizeram possíveis. Afinal, não é na hora em que entramos no banho que o telefone começa a tocar?

Comigo, a Lei de Murphy se aplica de um jeitinho único. Explico:

Existe, ainda e infelizmente, uma época do meu mês em que estou... digamos assim... desprovida de recursos financeiros. Vocês entenderam: acaba a grana e fico completamente sem dinheiro, contando os trocados, como vulgarmente se diz. Bem, é a época em que vou fazendo umas ginásticas financeiras e vou levando o pouco dindim até o limite, ou seja, até receber de novo.

Pois entendam: com tantas pessoas carentes no mundo, com tantos pedintes que existem na minha cidade TODOS OS DIAS DO ANO, os mais necessitados, os que mais despertam meu lado socialmente solidário, esses só me aparecem EXATAMENTE QUANDO NÃO TENHO DINHEIRO ALGUM!

É impressionante! Quando tenho algumas boas notas na carteira e poderia pagar uma refeição a um faminto de rua, nenhum deles aparece. Eles deixam para me procurar – e me achar – justamente quando eu mal consigo pagar as minhas próprias refeições.

Minha Lei de Murphy acaba sendo: "Se alguém vier me pedir dinheiro, será justamente quando eu não tenho".

Aí me pegam com uma dor na consciência danada... Fico pensando: por menos que eu tenha, essa pessoa aí tem ainda menos. E fico pensando o quão egoísta eu sou por não poder abrir mão desse pouquinho que me resta. Adivinha? Acabo sempre ajudando. Com merrecas, mas ajudo. Às vezes dou o lanche que estou levando na bolsa. Ou a passagem de ônibus. Ou o leite da criança que chora no colo da mãe. Depende da situação que aparecer.

É como se essa gente me olhasse o mês inteiro e esperasse eu chegar nesse ponto mensal de pobreza só para me testar: vamos ver se ela é capaz de fazer uma boa ação nesse aperto. E eu faço.

Ou talvez seja a mesma época em que todos os doadores anônimos da cidade também estão sem dinheiro; pode ser a fase de menor rentabilidade dos pedintes... Vai saber! Aí eles recorrem a qualquer loira que passe na rua. E eu, no meu complexo de culpa social, dou um jeito.

Não tem como a gente ser responsável por todo mundo. Também não tem como ver tanta pobreza e passar como se não fosse com a gente. Também não tem como ajudar a todos que precisam, nem de todas as formas que precisam. Mas, com ou sem grana, não tem como não tentar, mesmo que seja só um pouquinho.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Eu admito

Sim, eu admito...

De fato, escrevo melhor quando estou triste. Deprimida. No fundo do poço. Arrasada.

Mas, poxa... Desculpa...

ESTAR FELIZ É TÃO BOM!!

terça-feira, 20 de abril de 2010

DIÁLOGOS V


(Amigo 1) - Não quero ficar com esses móveis. Não me trazem nenhuma recordação boa. O fim do meu casamento foi um período muito tenso, ruim mesmo...

(Amigo 2) - Sim... Todo fim de casamento é tenso e ruim. O meu também foi.

(Amiga dos dois) - É... A questão é que, se não fosse assim, não teria sido o fim.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

No campo... No mar...


Passei minha infância em uma cidade muito pequena no interior do Rio Grande do Sul. Adorava aquela cidade, a casa, as pessoas, a escola, a professora (sim, era a minha mãe, mas mesmo assim!), os amigos. E, além de viver nessa cidadezinha, havia outra coisa que me fazia feliz naquele tempo: ir para a fazenda. Não pense em grandes latifúndios! Na verdade, eu nem lembro o tamanho exato do lugar.

Quando a gente é criança, tudo se agiganta.

Mas tem algo muito peculiar ao lugar de que me lembro muito bem. Independente de conhecer as outras pessoas que moravam por lá, todos, ao passarem uns pelos outros na estrada, levantavam gentilmente a mão, abaixavam a cabeça, em sinal de cumprimento ao outro.

Hoje, na cidade, as pessoas apenas se cumprimentam caso se conheçam. Lá não é assim. As pessoas se cumprimentam em sinal de cumplicidade. Significa: “Eu sei do tipo de vida que você gosta, e eu gosto também”. Não é preciso dizer nada. Eles sabem que podem contar uns com os outros. Eles se cumprimentam. Entendem-se, mesmo sem nunca terem conversado. Habitam o mesmo parnasiano mundo.

Nunca mais fui para a fazenda. Nem aquela, nem outras. Estou mais perto do mar que do campo. Mas algo nesse lado de cá, litorâneo, é semelhante ao anterior:

Uma vez no mar, seja em um simples barquinho de pesca ou no melhor dos iates, todos fazem parte do mesmo oceânico mundo. Todos se cumprimentam. O significado é aquele mesmo: “Eu sei do tipo de vida que você gosta, e eu gosto também”. Significa expressar com um gesto de mãos, à distância, que você também é, ao seu jeito, apaixonado pelo mar. Significa que um não deixará o outro à deriva. É a cumplicidade dos que preferem a água à terra firme.

Encontrei isso no campo e no mar. Pude me sentir acolhida nesses lugares. Mas sei que essa simples tradição também ocorre em muito outros circuitos, como o aéreo. Ou vizinhos de um condomínio. Policiais. Muitos!

As pessoas precisam de outras pessoas com quem se identifiquem. Ainda é preciso saber que você pode contar com uma ajudinha de alguém que talvez você nem conheça.

Afinal, podemos até ser ilhas, mas dentro de um mesmo arquipélago.

Ainda precisamos de iguais. Ainda. E, talvez, cada vez mais.