sexta-feira, 10 de maio de 2019

Frascos vazios


Uma das minhas mais secretas satisfações, dentre as inúmeras pequenas alegrias que criamos para nós mesmos, é esvaziar frascos, especialmente aqueles que mantemos no banheiro. Frascos de shampoo, de pasta de dentes, de cremes hidratantes, de perfumes. Digo especialmente esses,  pois são os que, normalmente, demoram muito para serem esvaziados - pelo menos, os meus.

Os frascos de perfume, por exemplo, ficam meses e meses ao seu dispor. Oferecem seu líquido magicamente perfumado para diversas ocasiões de sua vida, seja para o dia a dia do trabalho, para o momento refrescante após o banho ou aquele evento tão ansiosamente esperado. Você o usa com parcimônia. O perfume que se usa para trabalhar não é o mesmo que se usa para ir a uma festa. Ao chegar ao final, é importante poupar cada gota, borrifar de leve no seu pescoço para aproveitar o restinho do aroma que lhe fará falta. E quando finalmente acaba, por vezes você até pode guardar o vidro de perfume, por ser bonito e lhe trazer boas lembranças, mas acabou - deixe-o de lado e comece um novo.

Frascos de hidratante são igualmente interessantes, dos menores aos maiores. Também custam a terminar e o bom é raspar até o final, nas últimas sessões de hidratação de pele com ele. Quando realmente não há mais nada a lhe oferecer ali, então é hora de jogar fora. Abrir espaço no balcão da pia, colocar um novo em seu lugar.

O bacana desses frascos esvaziados é a sensação de conclusão, de finitude. Eles já lhe deram tudo que poderiam, foi uma curtição mútua e é hora de desapegar, mudar, começar de novo. Penso que essa é a razão pela qual eu goste tanto de chegar ao ponto de um frasco vazio. Desfazer-se dele pelo meio é desperdiçar metade do potencial oferecido, é desistir no meio do caminho, é inconclusivo. Bom mesmo é acabar com seu shampoo e ainda adicionar água no final para aproveitar um pouquinho mais do aroma, da sensação, do conteúdo.

É preciso chegar até o fim das coisas. É preciso esgotar as possibilidades. É preciso ficar com vontade de mais, ao invés de arrependimento por não ter aproveitado tudo o que podia. É preciso esvaziar. Esvaziar-se. Criar espaço. E começar tudo de novo.

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