Estive envolvida na difícil tarefa de procurar um apartamento para o qual me mudar. Dias e dias gastando meu salto nas calçadas de Florianópolis para achar um outro lugar com o qual eu me identifique. Tinha que ser perto do trabalho. Não adianta: esse fator torna a vida bem mais prática, especialmente em uma capital. Telefonei para corretores, fui em cada imobiliária, liguei para os anúncios no jornal, sabendo que a prova dos nove não seria dada por características do imóvel ou pelo preço. Tudo depende de como eu me sinto ao entrar no lugar.
Até que cheguei em um pequeno apartamento cuja porta exigia um exercício mental e físico para abri-la. Atrás dela, estava o lugar que me envolveu. Iluminado pelo sol e bem cuidado, ele tinha exatamente os únicos dois móveis que eu não teria para levar. Foi um pacto silencioso que fizemos, o apartamento e eu. Entendi a razão de a porta ser tão complicada: ela estava guardando todos os dias que viverei lá dentro.
Assim, dei o problema por solucionado. Comecei a visualizar a disposição dos móveis, a parede dos quadros, a cor da cortina. E tudo isso a 3 ou 4 quadras do trabalho. Fiz o percurso várias vezes: do trabalho para o prédio, do prédio para o trabalho. Era perfeito. Até fazer o trajeto acompanhada, falando sem parar das qualidades do imóvel, quando fui questionada: “Você já olhou para o outro lado?”
Não. Eu não tinha olhado. Mudei a direção do meu corpo, que estava voltado para o caminho que eu farei para chegar ao trabalho. Quando olhei para o lado direito, para o final da rua, perdi todas as palavras de exclamação, todas elas chegaram mais rápido que eu ao mar que estava logo ali. Caminhei mais uma quadra, a quadra oposta à labuta diária, e cheguei à Beira-Mar, com tudo o que essa visão oferece.
Descobri que vou me mudar para um lugar que está a poucos metros de um dos cartões postais mais bonitos de que se tem notícia. Dei de cara com os tons de amarelo do sol refletidos naquele marzão, que será meu mais querido vizinho. Pessoas caminhando, andando de bicicleta, fazendo exercício para o corpo e para a alma. O cheirinho de praia. A paz a uma quadra de casa.
A mudança será em breve. Mas meu espírito já está morando lá. Ele já percorre todos os passos entre o apartamento acolhedor e a beirinha do mar. Ele ouve o barulhinho das ondas de olhos bem abertos. Ele compreendeu perfeitamente o que meu querido amigo traduziu em palavras: “Enquanto você pensa de olhos fechados, um poema dorme do seu lado”.
Até que cheguei em um pequeno apartamento cuja porta exigia um exercício mental e físico para abri-la. Atrás dela, estava o lugar que me envolveu. Iluminado pelo sol e bem cuidado, ele tinha exatamente os únicos dois móveis que eu não teria para levar. Foi um pacto silencioso que fizemos, o apartamento e eu. Entendi a razão de a porta ser tão complicada: ela estava guardando todos os dias que viverei lá dentro.
Assim, dei o problema por solucionado. Comecei a visualizar a disposição dos móveis, a parede dos quadros, a cor da cortina. E tudo isso a 3 ou 4 quadras do trabalho. Fiz o percurso várias vezes: do trabalho para o prédio, do prédio para o trabalho. Era perfeito. Até fazer o trajeto acompanhada, falando sem parar das qualidades do imóvel, quando fui questionada: “Você já olhou para o outro lado?”
Não. Eu não tinha olhado. Mudei a direção do meu corpo, que estava voltado para o caminho que eu farei para chegar ao trabalho. Quando olhei para o lado direito, para o final da rua, perdi todas as palavras de exclamação, todas elas chegaram mais rápido que eu ao mar que estava logo ali. Caminhei mais uma quadra, a quadra oposta à labuta diária, e cheguei à Beira-Mar, com tudo o que essa visão oferece.
Descobri que vou me mudar para um lugar que está a poucos metros de um dos cartões postais mais bonitos de que se tem notícia. Dei de cara com os tons de amarelo do sol refletidos naquele marzão, que será meu mais querido vizinho. Pessoas caminhando, andando de bicicleta, fazendo exercício para o corpo e para a alma. O cheirinho de praia. A paz a uma quadra de casa.
A mudança será em breve. Mas meu espírito já está morando lá. Ele já percorre todos os passos entre o apartamento acolhedor e a beirinha do mar. Ele ouve o barulhinho das ondas de olhos bem abertos. Ele compreendeu perfeitamente o que meu querido amigo traduziu em palavras: “Enquanto você pensa de olhos fechados, um poema dorme do seu lado”.