quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Já dizia Machado


Para algumas pessoas, não basta amar. Algumas pessoas precisam de garantias, precisam da posse. Precisam de promessas de amor impossíveis de serem cumpridas. Para consegui-las, também prometem sabendo que não conseguirão realizar. Precisam de um atestado de pertencimento que deve ser constantemente renovado.

Foi mais ou menos assim que surgiu essa história de casamento, que, em sua origem, não tinha nada de romântica. Foi uma maneira encontrada pelos homens de garantir que suas propriedades permaneceriam com herdeiros legítimos. Com o papel assinado, sentiam-se no total direito de cobrar fidelidade extrema da mulher, sem correr o risco de ver suas terras em mãos do filho de outro homem. Enquanto isso, eles não se privavam do prazer de estar com outras mulheres... Assim a gente entende melhor por que a traição feminina ainda é tão condenada. Mas aí já entramos em outro assunto...

Enfim... Essa necessidade de sentir-se dono de algo/alguém é muito antiga. Tanto quanto a probabilidade de falha dessa atitude. A pessoa pensa que tem domínio sobre a outra. Vigia. Espiona. Monitora. Quanto mais aguçadas suas técnicas de controle sobre o outro, melhor esse outro saberá livrar-se delas.

Isso remete a Dom Casmurro, do Machado, e uma de suas célebres frases no final da narrativa, referindo-se a sua total insegurança com relação à Capitu: “Não tenha ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprendeu de ti”. É isso: ciúme está diretamente relacionado à insegurança, que leva à necessidade de confirmação de posse, que é totalmente infundada.

Algumas pessoas são sentimentalmente maduras o suficiente para estarem imunes a essa necessidade primitiva e distorcida. Outras não. São viciadas nos pronomes possessivos. Esquecem-se de que pronomes também podem ser indefinidos. Ou relativos. E pior... que um pronome fora de contexto perde completamente o significado.

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