Um dos homens que mais amo na vida disse que eu o estava trocando. Ele não mora na mesma cidade que eu. Está a 500 km de distância. Nesse caso, eu o estaria trocando por outra vida um pouco mais distante... Mais especificamente 3.000 km mais longe.
É para ele que escrevo hoje. Porque ele não é o tipo de homem que possa algum dia ser trocado. Ele é o tipo de homem que eu sempre levarei comigo. Sempre a foto dele em minha carteira. Sempre o presente que ele me deu guardado entre meus tesouros. Sempre o telefone dele como o número 1 a ser discado pelo meu celular.
Ele saiu da casa onde eu também morava há quase vinte anos. Ele já se mudou quase tantas vezes quanto eu. Ele já se acidentou. Já preparou as melhores refeições que sou capaz de lembrar. Já teve filhos. Já perdeu uma filha. Passou a vida toda apaixonado pela mesma mulher. Já entrou em brigas. Já ficou muito tempo sem querer falar comigo. Já teve mais cabelo. Foi meu par de debut. Já pensou em nunca mais se colocar na situação de aluno. Correu atrás do prejuízo quando nem se esperava mais por isso. Formou-se. Tomou conta de uma porção de gente. E ainda pensa que poderia ser trocado...
Não, Mano, você nunca é preterido em minhas escolhas. Você participa delas. Você é o meu melhor amigo, meu melhor conselheiro, minha referência (e você sabe do que estou falando). Existem expressões que tomo a liberdade de mudar, para dizer algo como “Meu irmão-herói”.
Li algo que dizia que viver junto não é viver no mesmo lugar, mas viver no mesmo tempo. E nós estamos no mesmo tempo. Tempo de sermos irmãos, no melhor sentido da palavra, independente da diferença de idade ou da diferença de cidades. Não podemos deixar que a distância determine o tamanho da saudade ou o tamanho da ausência. Às vezes temos a impressão de que, quando a pessoa não está muito longe, a saudade dói menos. Sabemos da facilidade em alcançá-la e isso nos conforta. Mas a saudade não tem conforto. Mesmo estando juntos, a saudade continua ali, o que talvez torne os momentos de encontro ainda mais felizes.
A distância aumenta e talvez minha conta de telefone aumente proporcionalmente. Mas mudar de cidade não quer dizer mudar o coração de lugar. E um coração é capaz de dividir-se entre todas as pessoas que ama. Por isso garanto que você continuará ouvindo as batidas do meu, mesmo a 3.000 km de distância.
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Um comentário:
oi querida! sabe que sempre leio seus textos e adoro. Emocionei-me no texto que acabei de ler dedicado ao seu irmão, de quem você sempre fala com muito amor e admiração. Lindo! beijos, Grazi
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