sábado, 16 de maio de 2009

Meu número não mudou

Conheço um cara, que já me foi muito próximo, rosto e corpo de garoto, mas deve estar tão perto dos quarenta quanto eu dos trinta. Atualmente, creio que nos falamos cerca de três ou quatro vezes por ano. Não nos gostamos menos que no passado, apenas nos distanciamos pelos próprios rumos que escolhemos ou nos impuseram.

Tendo mudado o número do meu telefone celular muito recentemente, e querendo notícias dele, telefonei. Não precisei buscar o número em qualquer agenda telefônica, fosse ela de papel ou digital. Eu ainda o tenho em minha lembrança. Tantas coisas já aconteceram em nossas vidas nos últimos quatro ou cinco anos, tempo contado desde que entramos nesse processo de afastamento, ele sorri e pergunta: “Mudou o número de novo, guria?”. Mudei. E esse, aliás, é um dos motivos pelos quais nos falamos durante o ano.

Aí lembrei que o número dele permanece o mesmo desde a primeira compra de aparelho celular. Fazendo as contas, embora minha matemática não seja muito evoluída, isso já deve ter uns bons dez anos. O aparelho já mudou, mas o número continua. De repente, me dei conta do quanto manter – ou não – o número de celular diz de alguém.

Está cada vez mais facilitada e frequente a migração de uma operadora para outra. Aparece uma promoção melhor, um plano mais vantajoso e lá vamos nós, com aparelho celular em mãos, tentar gastar menos e ter melhor qualidade com outra empresa. Tudo bem que hoje é possível manter o número, apesar da mudança de operadora, mas isso é recente. Além do mais, há outros motivos para que os números sejam alterados: muda-se de cidade, de Estado, de parcerias.

Quando esse meu amigo comprou seu aparelho – e seu número – foi em conjunto com sua então namorada. Os números combinavam, como os olhares entre os dois. Mudava apenas um dígito. Os amigos que soubessem o número de um, automaticamente saberiam o número do outro. Os aparelhos eram iguais e eles podiam se ligar gratuitamente, conforme a promoção vigente no período da compra. Mais uma demonstração do quanto queriam estar juntos, do quanto estavam conectados. Tanto, que logo veio o noivado e o casamento. Eram o primeiro amor um do outro. O tipo de primeiro amor que estava dando certo.

Mas algo começou a mudar. A vidinha que ambos haviam sonhado e estavam vivendo já não bastava a ela. Sentindo-se cada vez mais desconfortável e com ânsia de mudar, mudou. De estado civil e de número de telefone. Logo ela já estava em outra operadora, com novo número de celular e novo amor.

Ele não. Ele não aceitava. Ele resistiu. Ele não queria mudar. Ele não sabia mudar. Ficou ímpar, ele e seu celular, na expectativa de voltarem a formar aquele casal, ele com ela, números querendo ser par. Ela nunca mais voltou. Nem seu número. Com o tempo, ele até acabou gostando de uma outra pessoa também e desistiu de resgatar o casamento que ele mal vira se perder. Mas o número... Esse nunca conseguiu mudar. No fundo, ele ainda tem esperança naquela antiga combinação.

6 comentários:

David disse...

Bianca,

Eu também não mudo de número. Acho importante manter, pois nunca se sabe o futuro. Alguém pode ter seu número anotado em um pedacinho de papel e em algum belo dia poder telefonar.

mãe disse...

Mantenho o meu número e acho que não gostaria de mudar . Muitas vezes nem lembro esse número , que tenho há anos , imagina se troco por um novo ...Sou conservadora até nisso ...
Bjs
mãe

Emmanuel Mirdad disse...

"No fundo, ele ainda tem esperança naquela antiga combinação".

Às vezes carregamos essa cruz por puro masoquismo.

Mariana disse...

Eu sou assim, eu sou assim! Até sexta passada era totalmente apegada à minha operadora de celular de quem era cliente desde que me mudei pro Rio (em 2004). Mas, depois de ser muito mal tratada por tal operadora, pedi a portabilidade para outra. Mas acho que, se não pudesse manter o número, não teria mudado. Meu Deus... Isso diz muito sobre mim...
;)
Bj.

Clari disse...

Querida, já mudei de nr 3 vezes desde que tive o primeiro celular. Motivos nem lembro bem, mas agora há anos conservo o mesmo nr e prefiro assim...(e isso tbm diz muito de mim) agora com a tal portabilidade só muda de nr quem realmente tem motivos para querer mudar.E essa de nrs combinados, sei bem... mas penso que qdo a combinação de desfaz é pq no fundo não era a combinação ideal. Se eu pudesse dizer algo para teu amigo, eu diria: vire a página e crie novas esperanças, deixe a antiga combinação ser apenas uma boa recordação da história da tua vida, tenha uma nova e quem sabe então a indissolúvel combinação que desejas!

Bee disse...

Depois desses comentários, uma conclusão: os leitores do meu blog são, na maioria, resistentes à mudança de números, ao contrário de mim!!!!
Adoro essa diversidade cúmplice!
Beijos a todos!