terça-feira, 18 de agosto de 2009

Meu amor e um travesseiro


Minha mãe mandava eu me aconselhar com o travesseiro quando eu era pequena. Não sei se era essa a razão, mas sempre fui muito apegada a ele. As crianças, normalmente, são apegadas aos seus travesseiros, dando-lhes inclusive um apelido carinhoso. Eu chamava o meu de “Nana” (som de ã no primeiro a). Letra maiúscula mesmo, pois era um bom amigo. Enxugava minhas lágrimas infantis e me despertava com conforto. Tinha cheirinho bom de sonho.

Carreguei o tal Nana comigo por muitos anos. Não admitia trocas. Apego não combina com substituição. Isso se estendeu até a adolescência (nem pense em ácaros! Eles também já eram meus amigos), até eu fazer uma viagem para visitar minha irmã e seu filho pequeno. O menino pedia sempre para dormir com o meu Nana. E eu deixava, durante todas as noites que passei na casa deles.

Na hora da despedida, com o Nana embaixo do braço, vi a carinha dele, triste por ter que ver indo embora tia e Nana. Foi assim que resolvi transferir um pedacinho do meu amor por ele na forma daquele travesseiro. O carro foi se afastando e eu o via abraçando com força o presente que a partir de então afagaria seus sonhos. Era um jeito de continuar ninando meu sobrinho à distância.

De lá para cá, passaram-se catorze anos. Meu sobrinho, agora, já tem até barba no rosto de homem. E minha alegria de tia é chegar no quarto dele e ver que, no meio de outros travesseiros, o Nana continua lá. Para dormir, ele ainda gosta do mesmo cheirinho de sonho que embalou nossas infâncias.

7 comentários:

mãe disse...

Coisa boa um Nana !!!!!!! Ainda mais quando vem com o cheirinho da tia . E é com muita satisfação que o atual dono mostra esta "preciosidade " e conta que foi a tia que deu .Pelo jeito vai continuar com ele até chegar alguém para quem ele consinta repassá -lo , junto com seus sonhos e seu cheirinho .
bjs

Unknown disse...

putz, tia!
juro que meus olhos ficaram cheios de lágrimas!
o Nana tá aqui guardadinho até hoje e não o troco por nenhum travesseiro do mundo!

Clarissa disse...

Dispenso grandes comentários...
O meu ainda existe e cumpre suas funções qdo solicitado. Ai, coisa boa!
simplesmente, amei esse texto.

GEPES/UFBA disse...

Que coisa mais linda... eu vi tod@s vcs com Nana, com dedinho na boca, com chupeta e tudo o mais... Bjos de quem tem seu Nana (já não sei se foi o primeiro) até hoje e é o melhor de todos!!!

Unknown disse...

Pois é... esta família tem histórias deste "nana", meus filhos nao tiveram este hábito,o calmante deles era o titi, hehehehe e eu particularmente acho uma gracinha aquelas criancinhas com um travesseirinho,ou um cobertorzinho debaixo do braço... lembro da Clarissa, já uma moça com com aquele "nana"... e a priminha Roberta com o cobertor daquela cor né???que era quase uma missão impossível de lavar estes, pois nao desgrudavam ...isto mais reforça que até hoje,depois de adultos somos apegados a objetos que mesmo que nao usamos... sentimos-nos seguros se estes estiverem conosco!!!Quem nao teve aquele pijaminha velhinho, ou até furado, mas ... o melhor de dormir não é mesmo???Um beijo Bi!!!!

Escritos Greice disse...

Não sabia desta linda história....coisa mais querida!!!!
É uma história de amor!!
Beijos!!

Anônimo disse...

Bianca, navegando pelo teu “conteúdo líquido”, que aflora tantos sentimentos, mergulhei nas profundezas das minhas recordações, enternecida, revendo aqueles quatro pimpolhos que considero meus sobrinhos de coração. Foi uma volta ao passado, que trouxe imagens, sons e fragrâncias, como se filme revelado pela reminiscência tomasse proporções de realidade. Revi a infância de cada um, como se estivesse acontecendo agora. O milagre que a memória e as lembranças são capazes de fazer! Ou o milagre que o amor e a saudade conseguem realizar!
Passaste o teu “tesouro” para um sobrinho que o guarda até hoje, são resquícios de um passado feliz, de família unida, de afeição e ternura, que perdurarão para sempre.
Neste retorno a tempos idos, não poderia deixar de associar a fase do meu filho, com seus “fetiches” infantis, que ainda conservo bem guardados: uma chupeta e uma fraldinha, que ele denominava “o bico e o banco”, porque os “paninhos” sempre eram brancos. Hoje, tenho uma neta que já teve o mesmo “vício”, mas começa a abandoná-lo.
No entanto, ela carrega um travesseiro e o ama como deves ter amado o teu. Este, chama-se “rosa” porque é a cor que devem ter as fronhas. E, quando nos visita, é o “pintinha”, porque aqui as fronhas são de “pois”.
Como vês, teus textos nos fazem viajar...Viagem fantástica, viagem no tempo, viagem ao interior de nós mesmos...Uma viagem que só é possível através da mágica do amor!

Irene