segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Com o coração na mão


Você se recupera. Se você se queima, se você se corta, se você se machuca... você se recupera. O corpo está preparado para tapar feridas, para curá-las. Na maior parte das vezes, não fica nem cicatriz. Você logo se recupera de acidentes, queimaduras, quedas.


Você só não tem como prever quanto tempo levará para se recompor quando o corte é mais fundo. Quando é feito diretamente no seu coração. Você não sangra, não aparecem hematomas, não há marcas. Mas todo o sangue que circula em suas veias é o seu coração sangrando, chorando em vermelho.


Primeiro ele acelera. Recebe o golpe e quase não acredita que o acertaram. Acelera, ruboriza, treme. Só então você percebe que ele foi atingido. Depois vem a dor, a dor que é física, a falta de ar, o enjôo no estômago. Não há anticorpos para isso e nada mais funciona direito quando o coração é ferido. E aquela dor vai tomando conta... enche seus olhos, esvazia o olhar, emudece a boca, paralisa os gestos.


Não tem remédio. Não passa. Fica alojada e se faz lembrar a cada batida do triste coração. E tudo falta. Falta a fome, o sono, o sorriso. Falta o ar, o ânimo, a paz. Sem previsões. Sem lampejos de esperança. Talvez algumas promessas em que seu coração já não consegue acreditar.


Apenas a dor, o vazio e o tempo.


Não há medicina que cure.


A única chance de melhorar está naquilo pelo qual o seu coração ainda bate.

Um comentário:

Clara Favilla disse...

Muito bom ter você como leitora.
Abraços