sexta-feira, 3 de abril de 2009

O amor é fodido


“Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.

Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances - porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.

Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa ser o que é. Só na solidão permanece...

Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem que haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo".


Não tenho mais nada para escrever hoje. O Miguel Esteves Cardoso, em seu livro “O amor é fodido”, já disse tudo. Ou mais. É isso... Resolvi não me ocupar em dizer algo que esse escritor português já falou tão bem. O amor é fodido mesmo.

3 comentários:

Concha disse...

Miguel Esteves Cardoso possui aquele humor satírico dos grandes cronistas.
"O amor é fodido" é recheado de humor, chocante, sarcástico... recomenda-se.

Beijos

J. Maldonado disse...

Um excelente livro de M.E.C., bastante melancólica e tocante. Já o li há anos e gostei bastante. ;)

Bee disse...

Nada como ter meus leitoes portugueses com muito conhecimento de causa! Adorei os comentários!

Beijos!