quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Amor explícito




Repare no modo como as pessoas olham os casais apaixonados que encontram pela rua. Mas não aqueles apaixonados que apenas andam de mãos dadas. Os mais apaixonados. Os que não contêm as expressões de amor que teimam em escapar de suas bocas, suas mãos, seus braços e olhos. Eles se demoram em longos abraços, no meio da calçada, esquecidos de que existe qualquer outra coisa fora do espaço entre os dois. Beijam-se fervorosamente em praça pública porque tudo o que precisa ser dito está no toque das línguas.

Mas o curioso é o olhar de quem passa pelos apaixonados. Todos olham. Mas não com olhos de quem se enamora pela vida só de olhar. São olhos que estranham a paixão. Às vezes condenam. Quando não repudiam. Olhos de quem não está preparado para um amor tão desinibido. De quem acredita em beijos atrás das portas. Em amor com luz apagada. Na ausência de testemunhas da paixão.

Dizem que existe lugar e hora para demonstrar afetos tão calorosos. Que outras pessoas não precisam presenciar a paixão do casal. Mas acho estranho, pois são condenados beijos de rua mais inocentes do que os beijos que passam na novela. Abraços que tornam os caminhos mais agradáveis, mais românticos, e menos estressantes. Coisa boa virar a esquina e se deparar com uma troca de olhares inebriada de amor. Talvez, na próxima quadra, os olhos hipnotizados sejam os seus.

Inevitável passar por esses casaizinhos, que normalmente são adolescentes, e não pensar na paixão que existe em sua vida. Ou na falta dela. Pensar que era você que gostaria de estar ganhando aquele afago, ao invés de estar correndo para o banco, para o supermercado, para o trabalho. Pensar que está louco para voltar pra casa e encontrar a pessoa que te faz esquecer seus pudores de transeunte.

Pensar que não existe hora nem lugar para dar uma fugidinha até sua adolescência e ser, por alguns minutos, a atração dos olhares que passam.

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