segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Fim de tarde de domingo


Fui obrigada a passar um longo tempo na rodoviária de Porto Alegre. Só sentar e observar as pessoas passando, apressadas, carregadas, atrasadas... Só isso já seria uma ótima distração. Mas, dentre os tantos lugares que havia para passar aquelas horas, escolhi um deles, pela simpatia com que o atendente acolhia as pessoas na entrada, cuidando de suas malas e de sua fome. Fazia com que todos se sentissem bem e tornava o ambiente mais amigável.


Mas houve um momento a partir do qual o clima do lugar murchou. O rapaz ficara sem graça, os clientes, mais sem graça ainda. O gerente da lanchonete resolvera chamar a atenção do mais simpático de seus funcionários ali, diante de todas as outras pessoas. E não foi um diálogo discreto. Ele elevou o tom de voz, bem no meio da lanchonete.


Aumentar a voz muda a finalidade do que se quer falar. Deixa-se de orientar e passa-se a humilhar. Deixa de ser educativo para se tornar uma péssima maneira de se mostrar melhor. Não é necessário alterar a voz para se fazer entender. Não são necessárias testemunhas para que o recado seja dado. Não precisa desmerecer o trabalho do outro para mostrar que o seu está sendo feito.


O tão bem disposto rapaz preferiu migrar para trás do balcão. Entristeceu. Não se ouvia mais sua alegre voz. Com certeza, preferiria ter ido para casa naquele final de tarde de domingo. Mas não foi. Ficou. Continuou fazendo seu trabalho. Não sorriu mais, não conversou. Apenas pensou. Os clientes silenciaram em seu nome. A comida fez questão de perder o sabor.


A parte boa é que o rapaz foi um bom conselheiro para ele mesmo. Seja lá o que ele tenha pensado, surtiu efeito. De repente, surge de trás do balcão o bom-humor e o bom atendimento. Um cardápio mais colorido e novo ânimo para se fazer pedidos. Ele voltou ao que era. Voltou para a porta, a atrair clientes. Voltou com todo o gás.


Suponho que ele tenha entendido que a sua presença ali era imensamente maior que as palavras disparadas contra quem mesmo as disse.

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