quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Memorial


De repente, por motivos meramente burocráticos, fui obrigada a escrever sobre minha própria vida. O nome que deram a isso foi “Memorial”. Essa palavra é relativa à memória, ao que faz lembrar... E o que a gente lembra é o que é importante para a gente. Assim, me vi obrigada a fazer uma seleção de memórias. Já escrevi uma biografia, sei que é tarefa difícil. Mas o fator facilitador é o fato de eu não ter uma vida que renda uma biografia – não ainda.

Na medida em que fui escrevendo, as recordações foram fluindo. Um fato interligado a outro. Causa-conseqüência. A maneira como as coisas foram acontecendo em minha vida. O que foi escolha minha e o que não dependia de mim. A seleção de pessoas que precisei fazer. Não cabiam todas.

Enquadrei o que vivi até aqui em cinco páginas. Em cinco breves páginas pude falar do meu nascimento, da minha família, das minhas mudanças, dos meus estudos, dos meus amores e meus trabalhos. Tudo em cinco páginas. Fatos concomitantes. Tristezas isoladas. Conquistas. Perdas. Tudo o que tem na vida de todo mundo. E, no final, ainda tinha que colocar uma certa perspectiva de futuro.

Estabelecer planos, metas, objetivos. Explicar os porquês. Justificar a vida toda por um objetivo. Enquanto escrevia, pensei no que os possíveis leitores daquele memorial poderiam pensar. Depois achei melhor parar de pensar nisso para não influenciar a escrita sincera de quem eu sou, do que já fiz.

Dias atrás, um amigo perguntou “Quem é você, na verdade?”. Não consegui responder. O tal memorial também não responderia. Isso só pode ser porque provavelmente ainda estou tentando descobrir. Andei pensando, também, que há dez anos saí da cidade em que voto. Nunca transferi meu título de eleitor. Ainda não tenho vontade de fazê-lo. Transferir o título é fixar um lugar. E eu ainda não defini qual é o meu lugar. Talvez não defina tão cedo, tampouco responda com certeza absoluta a pergunta do meu amigo. Definir quem eu sou seria deixar de mudar. E uma escorpiana como eu precisa de mudanças. Nem que seja para colocar num memorial depois.

2 comentários:

Aguinaldo Medici Severino disse...

Ula-lá
Bianca, como vais?
Duvido que teu memorial só cabe em 5 páginas. Você inunda teu blog de cousas, de experiências, de sentimentos, de tentativas de organizar os sentimentos (e tentativas de esquecer que eles afloram sem a gente se dar conta).
Duvido mesmo que isto tudo cabe em 5 páginas.
Bobagens.
Se eu escrevesse que você escreve para o prazer do leitor estaria sendo sacana. Você escreve de um jeito que deixa o leitor com vontade de ler algo mais. Isto é um grande achado (acho eu).
Abraços para ti.
Aguinaldo

pensar disse...

Muito bom seus textos.Mas a pergunta que te fizeram não tem resposta e nunca terá, porque ao ser respondida já não é, e o que tu vê não é o que tu é....somos eternos mistérios.Ainda bem.
Um abraço